Geral

Ir

Vai? Imperativo: serve para mandar,

Para seduzir, ser sugestão, orientar,

Querer que seja feito, apontar, ajudar,

Condicionar, manipular, influenciar.

 

Cada um vê, lê, entende sem querer,

Sente-se bem, persuadido sem saber,

Interpreta assim a sua forma de ser

E pensa que, quiçá, isso é viver.

 

Quando ir não é simplesmente ir,

Mas sim tudo o que parece existir.

Descrever-se é, tantas vezes, fingir

Que há mais para fazer que sentir.

 

Que venha cada um ser um leitor,

Porto

As conversas que mantenho comigo

Representam o meu porto de abrigo.

Os meus pensamentos são como naus

Que fogem do mar e encontram calhaus.

 

Há naufrágios que sentem o fundo

Sem terem visto metade do mundo,

E outros navios vivem amarrados

Em sargaços com seus rumos salgados.

 

Se o encontro das partes separadas

É alegria nas palavras faladas,

A espera pelos momentos conjuntos

Celebra-se até mesmo sem assuntos.

 

As conversas que mantenho comigo

Fotografia

O difícil de se fazer poesia
É ser tudo fácil em excesso,
Que antes de ser já existia
Em mim, juro e confesso.

Existe onde penso e sinto,
Aparece no papel escrito,
Como mapa dum labirinto
Innito que parece finito.

Sou assim e deixo-me cair
Nesta tentação que tenho,
A loucura que há por sentir
A arquitetura do engenho.

Por isso escrevo este relevo
Que tenho na alma exposto,
Faço o que posso e que devo
Na fotografia do meu rosto.

Para escrever livros não é preciso ser escritor

Os escritores são iguais a toda a gente,
Têm uma profissão como tantas pessoas,
Ser escritor tem que ver com ser diferente,
Ou, pelo menos, ser viajante nas proas.

Poetas que escrevem fazem alexandrinos,
Fazem a métrica toda, se for preciso,
Com tantas personagens, com mais figurinos,
E a conclusão do verso é sempre um paraíso.

Escrever livros? É muito fácil fazê-lo.
Pode fazê-lo qualquer pessoa, e pronto.
Às vezes, fazem loucos, puxam o cabelo,
E nunca nada finaliza com um ponto.

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