Geral

Livro

Não tinha onde escrever,
Então escrevi em ti,
Para não esquecer
Tudo aquilo que senti.

Quando te estava a ler
Meu inconsciente viajou ,
No teu interior foi viver
O meu corpo abandonou.

Fiz da tua a minha história
Com momentos de ternura,
E conquistei a minha glória
Num momento de bravura.

Regressei à realidade
Quando te acabei de ler,
Mas ficou a vontade
De um dia te reler.

Mulher! quando nos braços

Mulher! quando nos braços
    Te escuto uma canção,
    Não vês em meus abraços
    Profunda commoção?
      É que o teu canto á mente
    Me traz vida melhor...
                Ah!
    Cantai continuamente,
    Cantai, oh meu amor!

    Quando sorris, assume
    Teu rosto uma expressão,
    Que o mais feroz ciume
    Se desvanece então.
      Sorriso tal desmente
    Um coração traidor...
                Ah!
    Sorri continuamente,
    Sorri, oh meu amor!

*O SELVAGEM*

A Silva Qinto

Eu não amo ninguem. Tambem no mundo
Ninguem por mim o peito bater sente,
Ninguem entende meu sofrer profundo,
E rio quando chora a demais gente.

Vivo alheio de todos e de tudo,
Mais callado que o esquife, a Morte e as lousas,
Selvagem, solitario, inerte e mudo,
--Passividade estupida das Cousas.

Fechei, de ha muito, o livro do Passado
Sinto em mim o despreso do Futuro,
E vivo só commigo, amortalhado
N'um egoismo barbaro e escuro.

Obsessão

Os bosques para mim são como catedraes,
Com organs a ulular, incutindo pavor...
E os nossos corações, - jazidas sepulcraes,
De profundis também soluçam, n'um clamor.

Odeio do oceano as iras e os tumultos,
Que retratam minh'alma! O riso singular
E o amargo do infeliz, misto de pranto e insultos,
É um riso semelhante ao do soturno mar.
Ai! como eu te amaria, ó Noite, caso tu
Pudesses alijar a luz que te constéia,
Porque eu procuro o Nada , o Tenebroso, o Nu!

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