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*LYCANTHROPIA*

L'auteur á remarqué que que la mort de ceux qui nous sont chers, et
     géneralment la contemplation de la mort, affecte biem plus notre
     âme pendaut l'été que dans les autres saisons de l'anineé.
     (Paradis artificiels)

Nuvens da tarde, azul fundo e sereno!
E astros inviolados, larangeiras!
Para mim não valeis seu riso ameno,
E aquellas _lindas_, languidas olheiras!

Apontamento

A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.
Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.
Não se zanguem com ela.

Paz!

E a Vida foi, e é assim, e não melhora.
Esforço inutil, crê! Tudo é illuzão...
Quantos não scismam n'isso mesmo a esta hora
Com uma taça, ou um punhal na mão!

Mas a Arte, o Lar, um filho, Antonio? Embora!
Chymeras, sonhos, bolas de sabão.
E a tortura do _além_ e quem lá mora!
Isso é, talvez, minha unica afflicção...

Toda a dor pode suspportar-se, toda!
Mesmo a da noiva morta em plena boda,
Que por mortalha leva... essa que traz...

Deixa que ao romper d'alva o cravo abrindo

Deixa que ao romper d'alva o cravo abrindo,
            Á rosa envie o aroma;
    E lá quando alta noite a lua assoma,
            O rouxinol carpindo!

    Que pela face a lagrima resvale
            De quem no exilio geme;
    E quando a propria sombra o homem teme,
            Que a mãi seu filho embale.

    Deixa que ao espaço immenso os olhos lance
            O sol antes que expire;
    Que pelo norte a bussola suspire
            E nelle só descance.

LYRA XXIX.

O tyranno Amor risonho
Me apparece, e me convida
Para que seu jugo acceite;
E quer que eu passe em deleite
O resto da triste vida.

  _O sonoro Anacreonte_
(Astuto  o moço dizia)
_Já perto da morte estava,
Inda de amores cantava;
Por isso alegre vivia_.

  _Aos negros, duros pezares
Não resiste hum peito fraco,
Se Amor o não fortalece:
O mesmo Jove carece
De Cupido, e mais de Baccho_.

*No harem*

      No matiz do tapete auri-felpudo
      Haydé reclina as fórmas langorosas,
      Scismam d'inveja purpurina as rosas
      Admirando-lhe as faces de velludo.

      Modelo, que convida a obsceno estudo
      N'um desmaio entre gazes vaporosas
      P'las cassoulas de prata sumptuosas
      O ambar, o beijoim arde a miudo.

      Quando rompe nos ceus a madrugada
      Sentem-se beijos em lascivo espasmo
      Que illuminam a alcôva perfumada

AO SOL!

Oh maravilha esplendida engastada
      Na fronte augusta do azul profundo,
      Qual lamina brilhante onde gravada
      Se visse a face de quem fez o mundo,

      Eu te saudo oh Sol? qual religioso
      O Indio quando viu a vez primeira
      Surgir do mar teu facho luminoso
      E alegrar com a luz a terra inteira!

      Ah! quiz cantar o braço omnipotente
      Que por nós trabalhava a cada instante:
      E a terra, o mar, e quanto vive e sente,
      Apontou para Ti, astro brilhante!

Á LUZ

Oh Luz dourada e pura!
      Oh Luz, irmã do Amor!
      Espelho e formusura
      Da Alma do Senhor!

      Em ti eu vejo e abraço
      O author da creação,
      Soltando pelo espaço
      Explendida canção

      Meus olhos que te admiram,
      Bem como a Terra e os Ceus,
      Ao verem-te, sentiram
      O proprio olhar de Deus!

      O ceu, mal vens n'aurora,
      Mais alva que a alva lã,
      De purpura colora
      As faces de manhã!

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