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A Moça do Malabares ou A Arte de Ser A Vida

Tinha uma moça jogando malabares coloridos,
Uma moça de bermuda e cabelos esverdeados.
Fazia sua performance no semáforo vermelho,
Grata às moedas e risos amarelos nos veículos,
Apesar do sol de meio-dia, intenso, alaranjado.

Nos intervalos, uma golada na garrafinha pet,
Um confere nas mochilas, um olhar pro nada,
Um mergulho casto pro interior dela mesma,
Um graças por ter conseguido pro marmitex,
Por estar fazendo arte e sem ser subserviente.

Alguns observam de seus estimados carros,

Poesia ao mouco

Viva como se fosse louco,
pense como se fosse sábio,
lute como se fosse hábil,
pereça como se fosse praxe.
 
Tendo em vista, o que já foi visto,
ditando, o que jaz escrito,
meramente, abaixe a cabeça,
a essência porém, não esqueça.
 
O intrometido, lhe dá bons conselhos,
conselhos de alguém já vivido,
inclina-te os seus ouvidos,
abaixe porém, a cabeça.
 
E os nomes à tempos lembrados
no tempo se eternizaram,
Pergunto-me:

O Antônimo de Antônio

Eu não estou triste, juro,

Mas me irrita o barulho.

Não estou triste, Júlia,

Se bem que nada me felicite,

Um punhado de conversa,

Ou mesmo um dedo de prosa,

Realmente se tornou muito difícil.

Não estou triste, não muito,

Só que não quero sair,

Não gosto mais de trabalhar,

Prefiro dormir.

Ou será que sim?

Estou triste pra burro?

Talvez eu deva aceitar

Que o cinza me rendeu,

Meu vigor encolheu

E que é preciso caminhar.

Não para qualquer lugar

Como era antes,

O BREJO

É um brejo

Ou só um brejo,

Mas não deixa de ser um brejo,

Um brejo que me parou.

Vejo a lagoinha acima refletindo a paisagem,

O sol, o céu de poucas nuvens, uns insetos,

Uns bichos estão em algazarra.

Dali para baixo,

No barro ressequido,

As pegadas de vacas,

De bois — do retireiro

— fazem um trilho para o nada.

Suspeito que eu, ali, — no brejo — já tenha passado.

Mas não lembro,

Ou não entendo,

Ou tenha ficado,

Naquele brejo.

Ou só naquele brejo.

Levitar

Queria eu voar entre as arvores

E Sentir o Aroma do Amanhã..

Queria eu Tocar o Céu
Como as Nuvens que Vagão Dia após Dia..
Queria Eu Ser Como a Lua ..
Mesmo sem brilho próprio
Ilumina o Coração dos Apaixonados ..

Quando Ninguém Mais Te Vê

Sentado na calçada,

Reconheço todos que passam.

Alguns nunca voltam,

Outros estão muito animados,

Muitos, nervosos ou impassíveis,

Todos me são familiares.

Nas suas costumeiras idas e vindas,

Às vezes me jogam uma moeda,

E nem percebem,

Muito menos me reconhecem.

A cidade, de novo, é pequena,

Fui embora, mas voltei,

Depois de alguns meses.

Nem minha filha — nem minha esposa

Sabe que quem está ali, à paisana,

É aquele por quem elas muito procuram.

Aliás, não procuram por mim,

½ Copo Cheio, ½ Copo Vazio

O copo estava mais pra vazio
Para uns,
O copo estava mais pra cheio 
Para outros.
Mais pra cheio de cólera,
De cócegas,
De café amargo,
De um doce chá-mate,
De nada,
De tudo,
De mágoa,
De pazes.
O copo era o homem,
Mais pra vazio de afeto,
De raiva,
De fé – também em sua capacidade,
De incerteza,
De alegria,
De esterilidade,

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