Meditação

Espelho

Eu não vejo o que sinto

Mas sinto que vejo

Vejo um mundo sem guerras

Com flores dentro dos canhões

Vejo as crianças brincando

E sorrisos brotando, em nossos corações

Vejo as paixões ardentes

Queimando como fogo as gentes

Que vivem nestes sertões

Vejo os olhares agrestes

Que correm, sem rumo, inertes

Em busca das desilusões

Eu vejo uma arvore, em prantos, caindo

E o algoz sorrindo

Com a serra nas mãos

Eu vejo minha pele tremendo

E a ternura esmaecendo

Breve, tão breve!

BREVE, TÃO BREVE

Breves, as palavras breves,
dos dias sempre curtos
a quem sente contínuas exaltações.

Breves, os sonhos breves,
dos projetos sem planeamento
a quem passa com a cabeça nas nuvens.

Breves, os sentimentos breves,
dos frágeis olhares vítreos
a quem vive distante de si mesmo.

Breves, os sorrisos breves,
dos corações eternamente frios
a quem morre sem conhecer emoções.

Breves, sempre tão breves,
os poemas que exaltam os poetas
a transcenderem os atos da Criação.

Simplesmente

Fui vivendo intensamente sem quebrar muito a rotina. Olhava os dias com a tranquilidade que eles iam impondo ou com a agitação que exigiam. O calor era sinónimo de felicidade espontânea, o frio de alegria motivada. Era necessário o equilíbrio para não se ficar em desvantagem nem no despropositado. Eu podia simplesmente olhar as coisas num sentido, numa só perspectiva, a minha...

Impossível Voar

Impossível voar, nem mesmo um simples planar Decerto que estou dormindo, na cama a sonhar Mas a vertigem é real, o abismo a meus pés, brutal Basta um pequeno passo, muitos minutos em queda fugida Pois e se eu não estiver a sonhar, seu perder a minha vida Não vale a pena arriscar Uma morte tão sofrida Mas mais uma vez uma grande tentação Toma a vez da cuidadosa razão Ergo o rosto com altivez Esperando o regresso da sensatez Tal como tudo na vida este desafio é fascinante Tem a sua parte de brilho mas também é escuro e errante Poderei então arriscar? Serei capaz de voar?

Paz

Preciso ver o sol

Para ver que a terra não gira em torno de mim

Não há repreensão 

O mundo todo é assim

Afinal, a terra não gira

Ela pulsa como o coração do amante desatento

Ela escorre como a lágrima fugaz

Ela troça-nos como o velho chistoso

Eu quero ver a terra girando em torno do sol

Eu quero ver o mundo correndo atrás do vento

Eu quero ver o tempo, fútil, andando em desalento

E que as nossas vidas tenham mais segredos

E que os nossos segredos tenham mais mistérios

em mim

Suspendi o tempo que me pousou nas mãos

Ave livre sem destino nem porvir

Olhei nas águas lavradas do rio

O desassossego que me habita nos olhos

E sorri

Do peito brotaram-me flores em cacho

Com cheiro a terra e a musgo

Com cores que envergonharam o arco-íris

Estendi-me, dolente

Nas margens deste rio calado

E esperei a lua

Lânguida

Foi meu o mundo todo num momento

Em que desbravei um peito a arder

Senti-me em mim

De volta

E a minha gargalhada

Pages