Meditação

RECADOS AVULSOS

A ROSA PLÚMBEA

o regaço avoengo tem profusas veias onde a criança dependura os cordames da fantasia.

A SINOPSE DO ENCANTO

as narrativas celebradas estão nos motetes que saem de partituras sublimes.

AS UTOPIAS EXCITADAS

quem pode explicar a voragem do homem quando rasura as utopias que inventa?

O BOCEJO INFINITO

verto na escuridão raios de luar empacotados que progridem pelo solo escalavrado da monotonia.

O CÍRCULO CAPRICHOSO

a velha alma destapa os velhos dias que o satírico decompõe em experiências originais.

recados avulsos

A PALAVRA MALDITA

é uma palavra que foge ao protocolo esticando-se até que uma lágrima irrompa.

A PALESTRA DEMORADA

os anseios dum humilde arrazoador desafiam o arquiteto deste abominável lugar.

A PARÁFRASE ICONOCLASTA

ultrapasso o centro dos conflitos, recuo até às circunstâncias injuriosas, descubro a essência do homem grotesco.

A PARÓDIA DESCOMUNAL

li os relatórios de pessoas que se abrigaram em covis de prostitutas.

A PENUMBRA EXATA

 a crueldade arrastou o quarto para a rua e a rua para longe da residência maternal.

recados avulsos

A MONDA CULTURAL

o trilho, expurgado de mensagens angustiosas, é hoje um passeio de cultura e ensinamento.

A PALAVRA AUSTERA

galga a cancela do medo afastando o nevoeiro que impede a razão.

A PALAVRA BISONHA

é uma palavra liberta dos beijos repenicados e dos tratos ciumentos.

A PALAVRA CINZENTA

a palavra descoberta por um mendigo ao agitar o seu regaço.

poemas vários

A LUTA CONTÍNUA

o rescaldo duma guerra que abre os portões da lassitude aos belicosos e faz emergir os garotos que a seguem.

A MÁCULA TRANSVERTIDA

possuo tudo aquilo que as transfusões excitaram nos momentos aviltantes da minha cobardia.

A MÚSICA RURAL

os artefactos que a pobreza transforma em cânticos recitados nos serões tradicionais.

A MOAGEM FRENÉTICA

avista-se um recreio dos últimos patamares da minha biografia.

 

RECADOS AVULSOS

A GAIVOTA PERENE

os violinos são rejeitados pelos tumultuosos povos que se abastecem de sermões.

A GUERRILHA URBANA

o chão vomitado da praça onde os mancebos agitaram estandartes cintilantes.

A HARPA FLUIDA

haja uma revolução onde não entrem militares nem os portadores duma arrogância que perfure a cerca dos costumes.

A IGNOTA ÍNSULA

o contacto do esperma com o rosto desfigurado duma mulher em cima dum estrado onde arremete a tirania.

A LÓGICA FURIBUNDA

poemas vários

A ENTORSE BOÉMIA

quis abusar das palavras agressivas que engrossam o dicionário dos manifestos.

A ESCADARIA RIBOMBANTE

quando os conflitos se alojavam no sexo com vislumbres duma transparência assustadora.

A ESTRUTURA BOLORENTA

há pessoas que aliviam o sofrimento abraçando outras que lhes cospem em cima.

A FARFALHA ABUNDANTE

a inocência senta-se numa plateia de eruditos enquanto a armadura do juízo regurgita falcatruas.

A FARPELA EXAUSTA

RECADOS AVULSOS

A BORDOADA SENTIMENTAL

no espetáculo figuram bonifrates com os seus tormentos dissecados por analistas fanfarrões.

A CÁRIE EXPURGADA

os litígios recuam para as cavernas hereditárias enquanto os solilóquios emergem entre penhascos abruptos.

A CANTATA DESCONFORME

os caciques molestam aqueles que procuram o sustento nos lugares onde concentram as matilhas.

A CARAPAÇA MUNDANA

aqueles que sobem ao palco para sorverem os aplausos que encorajam as suas ações transitórias.

A CRISÁLIDA AMOROSA

Civilidade

Civilidade
 
Chegará a hora da razão
as palavras, quaisquer que sejam
sentirão cansadas
que nunca haverá consagração
a menos que ditemos
novas leis ao amor
outros princípios à razão
mais que saudades
nunca morrer de amor
falar a verdade sem destemor
acolher os fracos no ascensor da vida
alimentar os famintos em nosso desfavor
jamais alimentar o divisor da paz

a história duma moeda

uma moeda fulge no cetro, tapa o orifício da fome; anicha-se no ouvido, perfura o ar; em fúria avança e recua sobre os corpos ou funde a si quem parte em busca de ínfima sorte, na fonte peneirando, nas brasas da embriaguês; é uma coroa de espinhos, um enigma! inventa o açoite e o martírio e depois enterra-se no chão.

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