Soneto

Poesia de verdade

Cria-se uma poesia com verdade,
Mentir num verso é falar horrores;
Se escreves linhas com fatalidade,
Perde-se todo o amor, perde leitores.

Morrer, longe é ter só hombridade,
É dizer com honra, sem nem louvores:
Fui digno duma forte honestidade,
Pereci-me no sangue dos amores!

És estúpido arrogar tua mentira,
Preferível jogar-se da janela:
Beijar restos do chão que te conspira,

Por Themis

"Je respecte mon Dieu, mais j’aime l’univers."
VOLTAIRE "Poème sur le Désastre de Lisbonne", 1756

No "dilema de Eutífron" (1), Naos (2) motriz,
Tollitur quaestio: um quírie jaz na pira (3)
Em melania. Lucífero, disfira
O Apolo imo supérstite. Que um lis

Não factora a ucronia generatriz
Porquanto lhe utra-existe, prava, a espira,
Se adredemente. Prístina, desfira
Cognoscitiva. E lácera na altriz (4).

soneto da provocação

Pouco importa se gostas do que escrevo.

Eu é que me atrevo

entre pinceladas em linhas tortas,

E é nas direitas que o Divino se expressa.

 

Ser fiel é ser integro.

É ter a clareza no pensamento 

mesmo que um descrente 

tente que duvides de ti mesmo.

E em tom de provoação:

Não preciso da tua aceitação.

Nem de pertencer a nenhuma religião.

 

Aos pobres de espírito não peço perdão.

A luz ofusca os que vivem na escuridão.

A beleza está nos olhos de quem vê com o coração. 

 

A dura infância

Eu passei a minha infância brincando
De pega-pega, travessura e carta;
Viravam as cartinhas e eu sobrando,
Choramingando a tristeza que tarda.

Fui gradualmente perdendo meu bando,
Sentia como perdesse a marca,
Via como cicatrizes que sangrando
Davam-me uma virilidade farta.

Saudades desse tempo engraçado,
Vivendo na lembrança genuína,
Morando num nostálgico afago

Epokhé

"There, far remote, I shall lie unknown"
MACPHERSON, James "The Poems Of Ossian, The Son Of Fingal", 1762

Cris, Abyssus abyssum invocat.
Soleva ao hiperurânio. Maranata (*) -
- desitiva ou seráfica - refracta
Num balsedo. Em diaptose, o entretom mate -

- loesse flamispirante dum xamate.
Mas libra-se, epacmástico. Em sonata (1),
Pleroma d'asseidade que, mediata,
Grateia por um secesso (2) que dilate

Unifiquemos

Nesta minha fusão de sinalefas
Unifico dentre a morte à sílaba,
Polimerizo o que se vai nas levas,
De quem se foi e quem se unifica.

Mato o hiato da tinta e das penas,
No versar da poesia morrem lidas,
E lerão os versos voados nas tréguas
D’um soneto de frases sem as mínguas.

No fim, tudo é preso a conexão,
Retificado, grudado nas formas,
Mas para a vida, formas morrerão.

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