Soneto

Saudade

Tua falta não há apaziguador complemento
Entristece me pela raiz com profundo tormento
Olhos sem candura são espelhos a lagrimejar
Saudade é ponte defeituosa para amar

Abraços desfeitos ,teus lábios de todo mel
Não tenho asas, ou anjo a merecer o céu
Saudade assustadora é fogo fátuo a queimar
Torna descontente , garganta seca e sem ar

Saudade prima da superstição a confundir
O que é real e o que nunca na vida vai existir?
Essa falta e a distância, temo sucumbir

natal

Natal do homem só e desditoso,
Natal dos tristes e dos covizados
Natal do vizinho suspeitoso
De ceias virtuais sem convidados
.
Natal de pérfidos vírus descartados
Nas ruas, em máscaras dolosas
Por mãos de vermes descerebrados
De mãos acéfalas e desafetuosas
.
Natal, Natal dos gritos abafados,
Tristeza e sorrisos castrados
De pinheiros ornados a solidão
.
Mas vai ser também natal de esperança,
Dobrem sinos pelos tempos de bonança,
Resiliência, muita fé no coração

Da Fisicalidade

Resseca uma clepsidra que se hastilha,
Sequaz da Galatea (1) marmorizada,
Hebeta-se em atimia, evola-se e nada
Lhe lidima uma Becky (2) por cartilha.

Entretanto o capcioso fluir dedilha...
Em distopia, o condir, em adversão afiada
À flama de um efésio (3), onde arde a mónada.
Em aporia, o devir lanha qual cilha.

Verberada, a centelha auroresce ainda
Numa "navalha de Ockham" que não ensarta
O adiáforo. É somente um áster que blinda

Apreço

Tenho apreço por qualquer afeto
As vezes esqueço do amor
Por se fazer tão discreto
É famigerada, e forte a dor

Vou dormir, e sei que necessito
Mas parece que a simples necessidade,
Do sono importante, não o pressinto
Rouba me o amor a liberdade

Sou marinheiro e muitíssimo sonhador
Nunca naveguei no mar de infinito amor
Há mais seres humano em desamor?

Há sonho sem sono ou sorriso fechado?
Mas há quem extingue esta morte!
Na vida, apostas na roda da sorte

Em Chamas

Na noosfera de Caíssa em "Scacchia Ludus",
Adeja um equilibrista na neblina.
Mistral, abscinde ameias em agoge hialina
Ensambla Galahad, sulco denudo.

Proceloso, abalroa fátuos entrudos.
E, róscida, colima-o a guilhotina...
Ipso facto do alvor que ele insemina
Num "Mabinogion" fósmeo, vão. Contudo

Ao estrondear como Thor urgisse atrás
Aos que intentam ilaqueá-lo em crase soez,
Coruscado, extar-se-á, se rarefaz,

Dormir

Vou dormir,sem desejo ainda
Tempestades na minha mente
Padecem meu juízo demente
A dor é, angustiante infinda

Pelo insano e grande cansaço
Vida tirana se faz de estimação
Interrompe a pouca animação
E sem guarida, a vida nega o abraço

O calor humano inexistente
Preciso dormir e pretendo
Deixar a dor fria, impotente

Incertezas nesta trajetória
Apenas sei, quem atira pedras
Tem uma estrada sem vitória

Intocável

Apodo "ferocactus" se sem hipanto,
Num cárcere de gelo, qual jazigo.
Esgrime o seu vil naipe, até consigo,
E anela por Porphyria* e doravante

Mimetiza em cristal Plutão porquanto
Obdurado, senão ao toque - erodido.
Na fria horripilação do desabrigo,
Aninha-se em si só, recalcitrante.

E todavia... plasmado em Shelley, um véu
Embai, como em Shalott**, as cordas mesmas
Daquela harpa indelével, cosmo seu,                

Cada gosto

Conheço bem cada desgosto
o vinho barato também
deixou de ser o santo oposto
satisfaz o paladar e serve de amém

Aleluia! o enorme mar é salgado
a população marinha dá proteção
perdão primeiro ao anjo soldado
o doce desta caminhada exceção

E na terra o sal dá tempero a vida
Lágrimas são atrizes divinas
adornam a eterna lista de petição

O vinho barato torna a vida colorida
o caro vinho não alegra o coração indisposto
Deus meu, me de o sal do mar, não amarga solidão

Saudade

Presente saudade em mim
Tão louca não se esquece
Traz lembranças sem fim
A um coração que padece

Saudade é motim, emboscada
Coração que descontenta
Saudade no peito reside calada
Jaz paixão, desamor atormenta

Saudade doida, fala, estraçalha
Corte dolorido da navalha
Saudade pode até ser curtida

Saudade pode ser recebida
Doses de esquecimento e anomalia
Depende da cachaça envelhecida

Canto...

Os poemas de amor e os de dor,

São dos mais escritos pelos poetas.

Que os pintam a todos da mesma cor;

Uns com linhas curvas outros com retas.

 

Queria escrever quadras e canções.

Escrever qualquer coisa divertida.

Um poema que alegre corações...

Um poema que celebre a vida.

 

Misturando todo o tipo de linhas.

Retas e curvas tuas, com as minhas.

Usando tintas de todas as cores...

 

Que negro bastante já tenho em mim;

Porque me hei-de castigar mais assim,

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