Tristeza

Cansaço

Estou cansado, mas espere
Não de mim, mas da tristeza.
O subterfúgio que fenece
A amálgama da beleza.

Sou grato por tentar sorrir,
Bater meus pés na terra...
Só que lá os grãos infectam,
E brota uma lágrima e outra...

Penso ‘’nuvens devem ser’’,
Mas a chuva é interna,
O tempo é ruim de se ter
Quando ela parece eterna.

Suicídio

Deixo a carta para ninguém.
Enforquei-me com estrelas.
O ar imbuído de cinzas,
Das nuvens desce a corda
Perscrutando meu  braço.
O tecido da realidade rasga,
Francamente… recortado.
Membros bailando o vento:
A pictórica imagem do fim.
Os pássaros depenaram,
O horizonte agora estreito,
Meu voo já não é nu 
E a vida espremida ao peito.

Bom senso

Vomitarei as regras do bom senso
Na descarga das normas vigentes
Todos sabem o que é e como ser
Mas ninguém ensina a azia de ter;
A ideia paira no ar, é toda abstrata
Só que ao chegar o diferente
Todos se sufocam com sua ambiguidade
Se a intuição dela rege como devo agir
Por que as tonturas causadas por eles
Nauseiam os limites do meu ir e vir?
Pouco importa o que ensinam
Se as paredes da realidade quebram

Escultura

Os olhos cheios de lágrimas
Calcificando o sentimento puro,
Da criança ao velho estúpido, e
Escultando rigidez por toda vida.
A obra ríspida para o público:
Apenas um homem comum.
A venda para inocentes,
Paga com ressentimentos.
Exposição aberta, peito fechado.
Segue-se o museu humano,
Uma espécie extinta por ódio,
Ignorada pela arte e altiva
Pela pequenez.

Lágrimas

As lágrimas decaindo sem parar,
E chuviscando lamentos na terra.
Ó lavas dramáticas e molhadas,  
Por melancólicos dedos cansados.
Secando na várzea jovem, a pluma,
Uma pluma negra a ciscar o fogo:
Sem cor e desolada ao voar:
Ventando sua morta nostalgia.

 

Introversão

Sozinho na mente
Livre na torrente
Rasgo mais um papel
Na voz do meu tropel
Oriundo ao pensamento
Contendo um lamento
No oceano desalento
De desgraça faço água
A exaurir poema ao nada
Inspiração da terra
Vem da luz etérea
No poema do além
Renasço um porém
Morte e vil angústia
Mas virtude ou penúria

 

Dualismo

Um corpo não subsiste sem alma.
Uma andorinha não cessa a gula
Sem um voo pernicioso e calmo.
Um homem sem fé é um cadáver,
E um cadáver com fé, é a fome colérica.
Eis a suma das criaturas terrenas:
Um eterno dualismo sem razão.
Se beleza há, o feio míngua sua forma;
Dançar nos adágios da causalidade
É o que resta ao homem extenuado,
Porque vida e a morte justaposto bailam.
Sorte e azar procedem o augúrio póstumo.

O silêncio que tudo diz

O silêncio sempre foi uma lei
Era uma espécie de verruga
Onde cada cutucada, uma praga
Gritava sob as entranhas d’alma
Passaram décadas e milênios
As necroses foram aumentando

‘’Enquanto guardei silêncio, consumiram-se os meus ossos pelo meu bramido durante o dia todo.’’

O sol me congela em sua fervorosa
Resplandecência

Jazigo das rosas

Onde ela será sepultada
Não haverá cova
Nem terra a sucumbir
Sua fúnebre homenagem
Será perpétua
Nenhuma gota da chuva
Lavará sua tristeza
O homem ignorante
néscio homem ignorante
cortará sua raiz
Nenhuma mosca na entranha
E um dia não perdoará
Sem compaixão na barganha  
Muito menos vingará
A rosa que sangra eternamente
E Deus não convalesce
Ao jardim das tristezas obscuras

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