o sonho de reverberar a esperança no meu reduto para depois derramá-la sobre as vísceras do universo; de expandir os tentáculos dos meus versos até ao âmago das inflamadas controvérsias; de beber o suco da reconciliação nos prados oníricos onde habitaria a humanidade.

dantes era o afogo e a contrição derivados das façanhas juvenis que me tragavam o futuro e promoviam a minha decadência; agora é a solidão que me consente viver na temperança através dos rituais duma liberdade que transporta consigo a harmonia.

fui responsável pelas minhas atuações desfasadas; pelas paisagens inebriantes que transportei até à minha intimidade; pelos meus transes ecléticos através do sorvedouro mundano; pelos espinhosos carreiros que segui até arribar à poesia.

os ditames da nossa consciência interferem no mundo e nos seus traumáticos eventos: nos seus garrotes perversos que estrangulam as nossas ambições; nos seus intrincados obstáculos denunciados pela nossa poesia; nos seus valores arcaicos que maltratam as nossas quimeras.

Escurece
parece que não tem
efeito à prece
sobre o templo de papel

Amanhece
parece que não tem
efeito o flash
na ansiedade pelas fotos
de imagens irrequietas

Entardeceu
parece não
tem mais efeito todo
sinônimo para amar
em moldes de pai e mãe
no futuro, de uma só carne
mesmos dons praticar

A melancolia produz muitos frutos
felicidade parece não viver mais
mas deixa eu me livrar
da sangria
de alguns de seus frutos

localizo os poetas que exaltam o amor para denunciar com vocábulos agrestes as suas falsas exposições; os seus métodos falíveis de descrever aquilo que só existe no sonho; que adultera os seus versos inocentes.

pertenço a um grupo restrito que cumula no seu ideário a autêntica liberdade; que peleja contra os temporais com lucidez e determinação; que assume o estatuto de pensador para enfatizar a importância de estar vivo.

borrifo o meu lar com os devaneios que grafo nos versos; com os julgamentos acerados que enuncio para transverter o mundo que me torneia; com as marcas da esperança que instauro para abolir a tristeza.

a paz transporta o universo por uma vasta rodovia que acaba na indulgência; nos momentos serenos que obrigam a esquecer os nossos atos brutais; os nossos ridículos destemperos gerados pela necessidade de conquistar.

flutuo sobre os escombros do meu passado para adquirir uma sabedoria que transforme os meus mitos em límpidas verdades; em factos irrefutáveis que traduzam o lado racional da minha existência vigente; a evolução sistemática dos meus versos.