“Idade destrutiva” (escrito há algum tempo)
Aos meus doze anos,
já compreendia o incompreensível.
Já temia que o meu destino
era ser amada e não amar.
Ser, sim, desejada,
mas nunca desejar quem não existe
ou não o permite.
Aos meus treze anos,
apercebi-me de que compreendia
que o humano era apenas um animal
que vivia,
reproduzia,
morria,
e em que o amor era apenas uma distração
para o pensamento intrusivo
e psicologicamente destrutivo
de saber que nunca ninguém saberá
se aquela foi a pessoa certa
ou se esteve errado este tempo todo.
Aos meus catorze anos,
descobri que não estava destinada a amar,
e como podia eu saber tanto
sem nada ter vivido?
Saberei mesmo?
Aos meus quinze anos,
não queria compreender.
Queria viver na doce ignorância
de não saber a dolorosa resposta,
como se uma carta estivesse pousada em cima da mesa
e eu tivesse medo de a abrir.
A minha corrente idade,
os meus dezasseis anos,
está a passar como se nada fosse.
Intrigada pelo meu passado
e pelos respetivos pensamentos,
penso que não deveria pensar tanto como penso.
Não me arrependo de pensar,
arrependo-me de ter descoberto a resposta.
Muita gente pensa e nada descobre.
Quem descobre, finge que não pensa.
Conclusão
Estou, sim, destinada a não amar quem devia
e a viver no paraíso proibido
de o fazer enormemente mal.
Continuo a querer ser amada,
mas não sei se me é sustentável amar.
Não sei se já amei,
nem acho que compreenderei o verbo “amar”.
Tenho como meu destino o meu inferno,
pois só chegará quando já souber
as respostas ao problema.
Sinto-me destinada a ser melancolicamente apaixonada
por nada, por ninguém,
apenas pela solene melancolia
de desejar todos os inabitáveis.