A MÃE E A FILHA

 

--Filha, filha, que linda alvorada!
Anda vêr este sol a nascer:
Ha tres dias que gemes deitada,
Mas já hoje sorris de prazer.


--Oh! que sonhos d'encantos divinos!
Tudo em roda luzia em fulgor,
E mil anjos cantavam seus hymnos
Em jardins d'açucenas em flôr.


Era longe dos olhos humanos,
N'uma terra mui longe d'aqui...
Oh! que mundo tão livre d'enganos!
Oh! que vida que n'elle vivi!

       *       *       *       *       *

--Olha o sol que tão bello se esconde
Nas montanhas sombrias d'além...
Tão calada, tão triste! responde,
Que tens tu, minha filha, meu bem?


Vou na patria d'eternos amores,
Vou ao longe ditosa viver,
Mas, no seio de mundos melhores,
Ai! não te hei de a meu lado já vêr!
Eis um anjo que desce os espaços...
Que harmonias! que brilho sem fim!
Mãe, oh mãe, dá-me ainda os teus braços...
Já não soffro, não chores por mim.
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