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AS VICTIMAS

Eu vejo muita vez e raro já me assombro
--Minha alma tanto afiz ás tristes commoções!--
Na rua, junto a mim, passar hombro com hombro
No transito penozo as longas procissões,

De victimas da sorte e victimas do mundo!
Umas boas, gentis, outras feias, crueis,
Envoltas n'um sudario ou n'um burel immundo;
Nas pompas theatraes, nas galas dos bordeis,

*HORA DO MEIO DIA*

J'étois inquiet distrait, réveur; jé dèsirois un bonheur dont je
     n'avois pas l'ideé.
     (Confessions de J.J. Rousseau)

--Sosinho no meu quarto retirado,--
Certas horas do dia calorosas,
Quando as flexas do Sol queimam as rosas,
Eu scismo no seu corpo esbelto e amado!

As curvas do seu collo assetinado,
Mais fino que o das rollas amorosas,
Dar-me-hiam as noutes voluptuosas
De que fallam os doutos do Peccado.

O Inimigo

A mocidade foi-me um temporal bem triste,
Onde raro brilhou a luz d'um claro dia;
Tanta chuva caiu, que quase não existe
Uma flor no jardim da minha fantasia.

E agora, que alcancei o outono, alquebrantado,
Que paciente labor não preciso — ai de mim! —
Se quiser renovar o terreno encharcado,
Cheio de boqueirões, que é hoje o meu jardim!

E quem sabe se as flor's ideais que ora cubiço
Iriam encontrar no chão alagadiço
O preciso alimento ao seu desabrochar?

Conde

Na praia lá da Boa Nova, um dia,
Edifiquei (foi esse um grande mal)
Torreão de gloria, o que é a phantasia,
Todo de lapis-lazzuli e coral!

N'aquellas redondezas, não havia
Quem se gabasse d'um dominio egual:
Oh o Torreão de gloria! parecia
O territorio d'um Senhor-feudal!

Um dia, não sei quando, nem sei d'onde;
Um vento secco de tortura e spleen
Deitou por terra, ao pó que tudo esconde,

LYRA XI.

Naõ toques, minha Musa, não, não toques
    Na sonorosa Lyra,
Que ás almas, como a minha, namoradas
    Doces Canções inspira:
Assopra no clarim, que apenas sôa
    Enche de assombro a terra;
Naquelle, a cujo som cantou Homero,
    Cantou Virgilio a Guerra.

  Busquemos, ó Musa,
Empreza maior;
Deixemos as ternas
Fadigas de Amor.

LYRA X.

Se existe hum peito,
Que izento viva
Da chamma activa,
Que accende Amor.
    Ah! não habite
Neste montado;
Fuja apressado
Do vil traidor.

  Corra, que o Impio
Aqui se esconde:
Não sei aonde;
Mas sei o que vi.
    Traz novas settas,
Arco robusto;
Tremi de susto;
Em vão fugi.

  Eu vou mostrar-vos,
Tristes mortaes,
Quantos signaes
O Impio tem.
    Oh! como he justo,
Que todo o humano
Hum tal tyranno
Conheça bem!

SAUDADE

    Em acordando agora,
    O meu contentamento
    É vêr em cada aurora
    Um dia de tormento!

    Podesse eu dar-te a prova
    Dos dias que me esperam,
    Lançando-me na cova
    Onde elles te pozeram!

    Lançassem-me algum dia
    Ao pé, que de repente
    O coração te havia
    De ainda pular quente...
 
    A face cobrar logo
    A fórma e côr perdida,
    E a bocca toda fogo
    Ah! inspirar-me a vida!

_A huma Preta, que pertendia que a obsequiassem_.

Domingas, debalde queres,
Nesse canto da Cozinha,
Vencer a invencivel teima
Da rebelde carapinha;

Em vão te arripia a frente,
De que zomba o Deos de Amor,
Alvo côto de pomada,
Furtado do Toucador;

Debalde tufado laço
De atadeira fitta Ingleza
Te assombra a lêveda pôpa,
Rissada por natureza.

Debalde altêas as ancas,
Esguias, e enganadoras,
Co'as velhas algibeirinhas,
Que vão deixando as Senhoras,

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