as páginas apaixonadas que eu escrevi quando os meus ideais flutuaram no sereno lago das gaiatas... nos seus cálidos amplexos... nos seus hipnóticos amores... na sua ternura constante firmada numa grande cumplicidade...
valorizo o ócio porque através dele reinvento o mundo que me torneia; porque o transformo numa bola de cristal onde habita a poesia; porque revogo as querelas imensas que ele contém.
a pujança dos homens sobrepõe-se às humilhações oriundas da sua malignidade; às execráveis injúrias que jorram dos lugares onde procuram a bravia afirmação pessoal; à emergência da sua hediondez.
as circunstâncias da minha vida fazem-me entender que é possível a redenção quando ajuizamos os desaires; quando partimos do pressuposto que o sofrimento é uma barreira transitória que acabaremos por ultrapassar.
percorro os anos consagrados a trazer à superfície os meus íntimos dilemas; a transportar toda a espécie de conselhos ao sorvedouro das minhas utopias; a verberar a enceguecida obediência; a sacudir a alma das furnas da difamação.
o horror que expressam as guerras globais transforma o mundo num lugar repelente; numa bola de fogo que desonra os benignos horizontes que os homens souberam gerar; num tormento estonteante que abalroa a nossa sensibilidade.
arrojo um olhar sôfrego sobre o meu crescimento para que ele reforce a poesia que escrevo; para que ele exprima as quimeras que aliviam a minha tristeza; para que ele difunda a ordenação onde quero perseverar.
clarifico as ambições através de versos que expandem a minha poesia; que dissecam os meus traumatismos juvenis; que soerguem a minha regeneração; que transformam os lugares que me circundam num magnífico viridário.
instauro a minha liberdade onde há gente que aprofunda o seu cativeiro; que humilha com palavras ofensivas; que difunde o azedume e o rancor; que insulta aqueles que propugnam uma sociedade abrangente.
concretizo a ânsia de saber explorando os livros dos ilustrados e as suas declarações sobrepostas ao mundo onde vivemos: às falcatruas que ele engendra para confundir o nosso raciocínio; para degenerar a nossa solidão.