calmaria
Autor: António Tê Santos on Sunday, 26 January 2025o meu universo é imune às desinteligências humanas e aos seus memoráveis excessos; aos seus tráfegos nocivos de impertinências e atrocidades; às suas declarações de escárnio e mal dizer.
o meu universo é imune às desinteligências humanas e aos seus memoráveis excessos; aos seus tráfegos nocivos de impertinências e atrocidades; às suas declarações de escárnio e mal dizer.
realizo as minhas ambições na flama doirada da poesia; nos meandros da festa que eu próprio inventei e que desenrolo até penetrar a liberdade que respiro; que me faz retocar as arestas cortantes da minha solidão.
eu creio na raça humana e nas suas premonitórias asserções; nas suas reformas subtis que cruzam fronteiras para estancarem os procedimentos insalubres; na sua poesia que ameniza os tumultos excessivos.
amplifico as querelas para as poder ordenar de acordo com o seu vigor intrínseco: com os traumatismos que imprimiram na minha índole; com os sintomas desvairados que protelaram a minha razão; com os desenvolvimentos agrestes que produziram.
houve um tempo em que eu interpretei as danças frenéticas da paixão com galhardia; com desdém pelo juízo e com uma inocência polvilhada de tristeza; com o intuito de enlaçar um mundo desprovido de ternura.
o bem-estar instala-me na ponta duma espada criativa donde eu vou retalhando a sociedade: as façanhas inconcebíveis daqueles que manipulam as opiniões; os destemperos causados pela lastimosa farsa humana.
o dédalo mundano sagra a hipocrisia como um requintado pitéu que se alonga pelos trilhos da nossa liberdade; reaviva as nossas consciências para provocar lucubrações indignadas; flagela a candura que subsiste em nós.
aceito as dádivas da vida mas não esqueço as suas palestras ofensivas: porque as suas feridas romperam a minha lembrança para desembocarem numa cáustica poesia; porque os seus dramas penetraram em mim com o vigor duma grosseira agressão.
desaba a ponte onde circulam as minhas realizações criativas quando eu introduzo na alma os sobressaltos temporais; a obscuridade que suspende os meus intentos generosos; a regressão emocional feita de contundências e desarmonias.
concretizo as aptidões refletindo sobre os dilemas existenciais: onde os meus sentimentos encontram o seu frutífero destino; onde os desarranjos recuam perante a minha escrita incisiva; onde pesquiso a veracidade com as minhas confidências.