venero aqueles que buscam a perfeição quando lutam contra as grosseiras maiorias; que desmascaram as intrigas humanas; que esfraldam o amor nos terrenos contaminados pelo desespero.
finco a razão no palco dos meus desacertos para os incinerar; para reduzir a poalha que me impede de avistar a paisagem que me torneia; para banir do meu caráter a incauta fantasia.
as quimeras que nutro geram o meu bem-estar porque se sobrepõem aos desaires que sofri; porque são valorizadas pelos versos que construo para restaurar os meus tresmalhados sentimentos.
protesto contra os lugares onde vivemos obcecados pelo rancor; pelos profundos ferimentos que advêm das brigas quotidianas; pelas aviltantes dependências que suplicam pela liberdade; pelos enlaces frívolos das antiquadas convenções.
não cedo à fugacidade da vida porque é o desespero que lá encontro; porque demando a prevalência da razão sobre a bruteza humana; porque pretendo robustecer as explanações poéticas que brotam das minhas utopias.
reputo o mundo como um vagão que transporta a inveja e a vaidade; que transita por itinerários conspurcados para nos irradiar intensos sobressaltos; que bloqueia os nossos atos genuínos.
deixo que as palavras sintonizem o objetivo de repreender aqueles que pervertem a veracidade: a sua intrínseca natureza que deseja transformar o universo; os seus depoimentos cristalinos; a sua aptidão para distinguir o trigo do joio.
a sombria paisagem que avisto quando percorro os trâmites das minhas rebeliões... os brados furibundos com que impugnei o autoritarismo... as farpas aguçadas que cravaram em mim...
o fraseado que se eleva da poesia tem dizeres que atuam sobre o intelecto para obstruírem os seus complexos; para que ele abandone o barco naufragado da vida e enverede por uma obstinada indulgência; por um sossego interior.
apreendo a farsa que se sobrepõe ao convívio humano quando integro no pensamento as lágrimas geradas pela submissão aos imperativos dos deuses; às suas mensagens inúteis; às suas promessas goradas.