a memória está em tudo aquilo que me perturbou nos lugares da hipocrisia; nos destemperados horizontes onde perfurei as mensagens da minha infância; nas gaiolas onde sobrevivi como um pássaro entristecido.
o futuro é anuviado por crenças que impugnam a natureza humana; que forjam utopias ignorando as regras que ela engendra para vivificar as tradições; que corroboram as truculentas campanhas de difamação.
há quem se adorne de virtudes para equilibrar os sintomas da sua arrogância; para cingir uma esperança que só existe na sua imaginação; para mitigar o desespero gerado pelas suas experiências nocivas.
há quem agite a consciência para remover os seus delitos; para refrear as suas desbragadas crispações; para instruir os que desprezam a sensibilidade; para se opor às evasivas de quem não motiva o bem geral.
o aparato mundano incentiva a gente perversa a exercitar os seus arremedos de decência; a transferir do seu âmago os tópicos que sustenta para infamar os homens de bem; a atraí-los para as suas vivências corruptas.
trago na ideia as serenatas balofas da infância e os seus degredos cruéis; os fastidiosos cortejos que conduzem aos lugares onde as promessas de amor se evolam; onde a sordidez se introduz no encanto de viver.
a ânsia de pertencer aos eleitos que transformam as reflexões em diamantes; que retorcem os fuzis que silenciam os ecos benignos que produzem; que descrevem os paraísos sublimes que habitam.
as utopias que eu verti na minha existência transfigurada... os diplomas que eu esfarrapei quando fui mentor dos meus próprios juízos... os dilemas que eu extingui através do meu isolamento...
expando os meus pensamentos para lá das parangonas dos jornais; para lá das farsas congénitas que elucido através das minhas observações; para lá das estampilhas antigas grudadas na testa da humanidade.
impugno aqueles que recheiam de malvaedz as suas afirmações; que instigam as querelas para lograrem brandir os seus ódios profundos; que se instalam numa tribuna donde vociferam palavras brutais.