A Hora Maldita
Autor: Duarte Almeida Jorge on Wednesday, 2 May 2018Maldita hora que deixei de sentir, sem nada para escrever.
Tanto que tentei, tentei tornar-me outro.
O tentar deixou de ser tudo.
Maldita hora que deixei de sentir, sem nada para escrever.
Tanto que tentei, tentei tornar-me outro.
O tentar deixou de ser tudo.
a noite recruta os marinheiros perturbados pela ondulação álgida dos dias, pelas lembranças inseridas na prateleira dos seus traumatismos, pelos regatos numerosos que constituem as suas exposições.
regurgito ideias que transpõem o ciclo do sofrimento para normalizarem no âmago dum desapego que entranha as comunicações da sabedoria reinventando-as com letreiros duradouros.
desisti dos sonhos irresponsáveis quando as convenções avançaram contra tudo o que abrasava o meu inconsciente: será um futuro inóspito que eu jurei transportar até à superfície da minha vida.
o escaparate das ilusões amplia-se pelo vácuo langoroso dos meus enredos quando a nomenclatura me favorece nos terrenos volúveis onde me situo, fragmentado e contraditório.
os sentimentos fluem duma maneira hesitante cursando os rios que há nos itinerários da temperança onde os seus obstáculos é o degredo que os avaliza nos relatos que extravasam a poesia.
requeiro os meus dissabores para proceder à inventariação dos seus indícios cruéis: a dolência transborda vociferando contra a poesia otimista: é uma estatueta aterradora percutindo os transes do passado.
Voltou tudo de novo.
Não sei o que o destino dez,
Mas tudo acabou.
Não quero voltar a fazê-lo outra vez.
Não quero amar.
Não quero fugir.
Se o passado voltar
Vou saber mentir...
Perguntei-me:
-Que fiz eu?
Onde foi que errei?
Que diz a Deus?
Talvez a culpa fosse minha
Pelo meu jeito possessivo,
Tinha a mania
Que o amor fosse agressivo.
Pelo menos não posso dizer
Que não fui feliz
Porque o fui a valer
Pena este final infeliz...