A porta que abre
Revela o destino
Daquele que ousa
A ela cruzar
Soleira pisada
Sorte lançada
Caminho infinito
Chance a mais
Olhando ao longe
Sem fixar
Conquista é mérito
Decisão e vontade
Não hesite, não tema
Passe e transpasse
Ouça o pedido
Que a vida nos faz
abimas
aprecio a vida quando escuto os discursos serenos da poesia; quando me aparto das controvérsias e ignoro a gente que me calunia; quando as lágrimas estancam no superior interesse da razão.
estou junto ao pilar da solidão com ênfase e com brilho porque fulgura-me na alma a textura das reflexões; a lucidez sobreposta aos reclamos do usual entendimento; as viagens desalinhadas que relato em poesia.
descrevo as peripécias que mancharam a existência que enjeitei; os protuberantes juízos que abrangi para criticar as sociedades; as paixões que sublimei na poesia para olvidar os meus sintomas irascíveis.
colocam-se flores no pedestal duma figura eminente: o povo maravilha-se com a coragem ou a sabedoria de quem honrou a sua pátria; venera aquele que alguns escalpelizam com diatribes corrosivas; eterniza a sua vida através duma aura que resiste.
na cidade recolhi pensamentos que divulgaram a farsa inscrita na existência dos homens: quando transportei para os meus versos as suas deprimentes atuações; quando dissolvi neles as fragilidades da sua ordenação.
nos ambientes soturnos que repudiámos porque a firmeza vaticinou a nossa mudança; os alvoroços insalubres cederam o lugar a novos comportamentos; a genuína liberdade foi iluminada pela nossa evolução.
no limiar da consciência oscilou o meu destino entre a nociva gente que não renuncia à malignidade e a solidão dos eruditos que recusam o vigor alucinado das multidões.
aumenta o bem-estar quando ultrapassamos o descampado da solidão para nos plantarmos num oásis intelectual; numa realidade amplificada pelas nossas utopias; numa estrutura imune aos tumultos que nos rodeiam.
desejo que a benevolência cruze as fronteiras do medo para influir nos nossos atos diários; que a esperança frutifique nos lugares insípidos onde a turba enregela; que a náusea de viver desapareça dos nossos tormentosos horizontes.