a penumbra ascética
Autor: António Tê Santos on Wednesday, 10 January 2024amplio a liberdade quando repuxo a esperança e zurzo os meus sintomas decadentes; quando as minhas mensagens recusam a turbulência da vida e os seus parâmetros desalmados.
amplio a liberdade quando repuxo a esperança e zurzo os meus sintomas decadentes; quando as minhas mensagens recusam a turbulência da vida e os seus parâmetros desalmados.
as armas que eu sustento para aturdir os meus ofensores...: desloco para eles toda a espécie de melindres; acumulo na minha bagagem pujança e subtileza para os neutralizar através da poesia que escrevo.
a poesia realça as conjeturas que eu produzo para mitigar a dor; para que o meu desempenho não caia na banalidade dos sermões; para que eu recupere as minhas lembranças fulgentes.
a consciência que agora possuo clarifica os meus desacatos e as minhas agitações profundas; os meus percursos marginais; os ferimentos causados pelos meus enceguecidos impulsos.
saí duma frágil redoma quando me propus enfrentar o mundo; quando exteriorizei a minha crença numa vida melhor; numa quimera que ignorou a grosseira realidade.
há arremedos espirituais que colidem contra as paredes da nossa consciência; há parâmetros falseados que galopam sobre o nosso destino; há palestras rotineiras que dificultam o nosso crescimento.
recrio as ideias humanas para mostrar o meu orgulho pela sua dolorosa evolução; pelos seus traumáticos dilemas e pelos importantes intentos que projetam; que transitam para o âmbito das realizações universais.
jorram de mim vocábulos que constroem um palácio transcendental; que desprezam as multidões e as suas refregas malditas; que enobrecem o meu caráter através dos seus ditames fecundos.
o pensamento exibe as minhas aspirações; reduz os meus ímpetos cruéis; expulsa do meu íntimo os insultos banais; reúne aos valores que propago uma grande moderação.
a vida balança quando manifesta os transtornos da nossa existência; quando traz à superfície as nossas ligações inconvenientes; quando nos exclui das benesses generosas; quando destapa as afeições hipócritas que a caracterizam.