as missivas que eu redigi para expulsar a solidão estão agora no museu das minhas lembranças; no claustro dos meus labores benfazejos; nos intentos que adotei para transverter a dor em poesia.
eu tento resumir em vocábulos que impressionem a minha condição de poeta: que aprofundem as mensagens do meu sofrimento; que demonstrem uma argúcia imensa que seja uma lanterna contra a obscuridade abrangente.
a rebeldia de outrora está agora guardada na sacola das minhas irrefletidas atuações; do assombro que ficou dos meus clamores furibundos; dos efeitos extravagantes das minhas leviandades; das protuberâncias acesas pelas minhas lembranças.
desliza a morte sob o passadiço onde se exprimem os vilipêndios e as agressões: porque as suas garras são implacáveis e a nossa liberdade não é perene; porque ela erige uma masmorra em torno das nossas frágeis vidas.
julgamos os outros através da nossa aptidão para renovar preconceitos ultrapassados; para transpor os limites da absurdidade ou envolver as nossas vidas com o manto da hipocrisia; para produzir litígios que expandem as nossas imperfeições.
transpomos os dilemas que nos conduzem ao sofrimento quando não hesitamos na mudança que nos promete conquistas inusitadas; que nos preenche com um regozijo que se sobrepõe às adversidades; que nos apazigua no auge da nossa maturação.
corro atrás dos problemas que afetam os homens para entender os seus raciocínios insalubres; as suas conjeturas desarranjadas pelos temporais que vão suportando; as suas ardilosas tergiversações; os seus extemporâneos comportamentos.
as ideias que promovo têm laivos de genuinidade na sua demanda pelo saber: indagam os homens grandiloquentes para absorverem as suas afirmações; têm as marcas do espanto que advém da leitura dos seus tratados intelectuais.
radicou o meu fado nas digressões que efetuei para olvidar a solidão; nos ferimentos que sofri enquanto transportava os meus instintos para a gruta dos desejos; nos meus exacerbados sobressaltos.