falsos amplexos
Autor: António Tê Santos on Tuesday, 17 December 2024lembro as minhas façanhas de outrora quando destapo o garoto que há em mim para silenciar os arautos falsos e infringir os numerosos tabus que caracterizam o mundo que me rodeia.
lembro as minhas façanhas de outrora quando destapo o garoto que há em mim para silenciar os arautos falsos e infringir os numerosos tabus que caracterizam o mundo que me rodeia.
dialogo com a vida para robustecer as minhas atividades e os meus pensamentos; os meus fervores cáusticos e as minhas aspirações literárias; os meus ensaios de psicologia transvertidos em catarses benfazejas.
guardo a ternura num saco para me precaver contra os dissabores que superintendem as nossas fragilidades afetivas; que submergem as nossas profícuas atuações; que aniquilam os nossos intentos profundos.
restrinjo a liberdade ao claustro onde habito para melhor empreender as minhas aventuras literárias; para melhor assimilar os atributos que me concedem o direito de escolher o percurso que me guia à poesia.
eu precisei de tempo para reflorir o meu vocabulário: com a garra que caracterizou as minhas relutantes intenções; com as palavras mágicas que nutri para ornamentar os meus versos.
verto o júbilo num ribeiro onde coleia a minha juventude; onde os meus devaneios se realizam através duma torrente benfazeja que arrasta consigo serenidade; onde transfiguro a minha dor em poesia.
correm os homens na esteira doutros que sustentam as suas posturas mesquinhas e os seus trâmites dolorosos; que transferem para o seu âmago tantas guerrilhas supérfluas e tantas proezas disformes; tantas perturbações consentâneas com a miséria de viver.
a poesia baila sobre os nossos intrincados obstáculos; envolve as nossas vidas com desenvoltura para esclarecer os nossos litígios prementes; remete as nossas almas para o centro das suas gratas efusões.
emito juízos que introduzo numa poética ordenação para nivelar as minhas emoções; para transgredir os ditames antiquados que proliferam nos escaparates da humanidade; para me proteger das investidas mundanas.
as lágrimas destoam quando as justapomos ao mundo que nos torneia porque a nossa afirmação se faz pela via dos pregões intransigentes: dos desígnios malvados com que replicamos àqueles que nos injuriam; dos nossos falsos amplexos que se exprimem num sufoco emocional.