repouso longe desta vida dissonante... do lugar cativo donde avisto as misérias humanas e as suas notórias derrocadas... das suas tragédias absorvidas por fúteis litígios... das historietas que nos contam e que provocam a nossa alienação...
as minhas utopias buscam uma ordenação que ative as salubres emoções dos homens; que estanque os seus pavorosos delitos; que institua um recreio artístico que possa fazer esquecer os seus desconsolos.
a poesia que se projeta da nossa alma silencia os ganidos das multidões; os sintomas decadentes que se aprestam para nos extenuar; as palavras corrosivas que deslustram a nossa liberdade.
usufruo dum querer inaudito que me permite satisfazer desideratos urgentes: os critérios duma vida tranquila que recolhe a brisa que origino quando escrevo os meus versos; as fantásticas deliberações que projeto das minhas utopias.
no meu pensamento reside a força contínua duma esperança que me desvincula da malignidade abrangente; dos vestígios da opressão que carreiam uma grande agressividade; das máculas que divulgo através da poesia.
eu mergulho no contexto das minhas atuações para as poder interpretar; para que os enigmas da minha vida sejam exarados; para que os meus sintomas pérfidos sejam dissolvidos; para que os fundamentos da minha liberdade deixem de ser recalcados.
o essencial dos meus intentos baseou-se na procura dum lugar seguro onde pudesse redigir as minhas reflexões; as minhas mensagens salubres e os meus olorosos devaneios; os meus tratados sobre a indulgência que deveria conciliar os homens.
adejo até aos mistérios da minha vida discrepante para os extrair da inconsciência: para me poder colocar atrás duma barreira convexa onde permaneça imune às agressões; para me redimir de tantos desacertos brutais.
afluo a uma sabedoria que deriva das minhas crispações passadas; dos humores ferventes que me apoquentaram; das frustrações que requereram os meus empreendimentos poéticos; dos meus prolixos desacatos.
eu quis ver o mundo através duma bola de cristal para o consagrar nas minhas utopias; para sacudir as feras amansadas que o habitam; para o abastecer de esperança nas cordilheiras da sua redenção.