rejeito as asperezas do amor e as próteses dele oriundas; os receios mórbidos que me fizeram enveredar por muitas aventuras desvairadas; as trágicas composturas que barricaram o meu destino.
retorno à juventude para sinalizar as suas fráguas através do engenho que usufruo quando intento consolidar as minhas ambições poéticas; quando intento rescindir os seus trâmites dolorosos através da alma luzente que construí.
a musicalidade que há nos meus versos resulta da carga emotiva que sustento para patentear os meus ideais; para conter os meus nefandos procedimentos; para abolir as minhas intensas perturbações.
a frialdade que implanto nas relações humanas faz-me pensar nas minhas inseguranças juvenis: nos palcos rebeldes onde me exibia e onde aguçava as minhas imperfeições; os meus trágicos desenlaces amorosos.
junto as mágoas ao meu ulterior regozijo para escrever poesia; para fortalecer as minhas quimeras, abrigado do mundo que me torneia quando redobra as suas querelas e os seus préstimos viciados; quando impulsiona as minhas críticas justificadas.
no núcleo da alma residiram os meus trunfos mais importantes: a vontade indómita que adquiri para escorraçar o sofrimento; o vigor com que firmei uma poderosa afirmação individual.
a impostura ligada aos valores das maiorias requer o poder da análise para ser combatida: com tiros disparados da alma contra as suas barbaridades: com a candura da poesia contra os seus dislates relutantes.
carrego aos ombros o anátema humano quando implanto nos meus versos a melancolia; quando reavivo as querelas daninhas que me apoquentaram; quando restauro a atmosfera conspurcada que inalei.
recrudesce a angústia nos meandros da gesta mundana: nos protestos ríspidos gerados pelo geral descontentamento; nas farsas subjacentes à atuação das pessoas; no aglomerado de servos zurzidos pelo sistema.
deposito as reflexões na poesia para expor os meus ideais; para denunciar as guerrilhas humanas e estender o tapete a uma austera liberdade; para abolir as minhas desgraças.