implanto o amor na poesia para denunciar as suas falseadas ternuras; para desiludir a esperança que há no seu íntimo; para o dissolver nos antípodas da minha existência vigente; para o acusar de trair a benignidade das pessoas.
tateio o meu ócio para me entusiasmar com as palavras que invento; para preencher os meus hábitos diários; para difundir as minhas ideias numa feira utópica onde também colijo as minhas ambições.
invoco as nuvens que se adensam no horizonte quando fortaleço as querelas que proliferam em meu redor; quando divulgo as condutas sórdidas que enxameiam o universo; quando peroro lengalengas sobressaltadas.
denuncio aqueles que potenciam as brigas ou que vulgarizam a ideia de morrer; que transitam pelo campo minado das injustiças; que integram no seu espírito uma vida acorrentada a sucessivas deceções.
ecoam vocábulos que me legam uma inspiração que perdura para além do que é convencional; para além das vicissitudes que me atormentam quando intento examinar o mundo; para além da banalidade abrangente.
o desconsolo que se adensa no mundo redunda num turbilhão que nos constrangerá se não soubermos resguardar-nos; se não soubermos acolher as corretas terapias para os contextos desbragados dos nossos procedimentos.
há uma brisa que me afaga quando escrevo poesia; quando busco inspiração para fortalecer os meus ousados projetos; para elevar até aos deuses o meu tributo artístico; para reverter os meus tormentos.
aprofundo as minhas querelas e os meus desgostos para depois os sublimar através da poesia: é quando apareço são e temperado no cavalo branco da prosperidade; é quando concebo um salubre destino para a minha existência atribulada.
eu penso que a sabedoria se baseia onde a esperança nidifica: porque ela alerta as nossas vidas para a magnitude dos seus dilemas; porque ela suprime a poeira que flutua no ar para eximir os nossos destinos.
catapulto mensagens que lembram os meus talentos juvenis; os meus destemperos insanos; as farpas cravadas no dorso da gente comum; a exprobração daqueles que transportam consigo a maledicência e a perversidade.