há palavras que nos conduzem pelos carris da poesia até aos lugares onde se enxerga a natureza dos homens: onde as suas grotescas figuras asseveram os comportamentos irracionais; onde se libertam das amarras da indulgência.
as palavras recuperam o seu fulgor na escadaria do sucesso ou nas catacumbas dum ócio planificado; numa esplanada donde se avistem as mais belas praias do mundo; numa cabana franzina e sem ornamentos.
lutam as palavras contra os autómatos que intentam submeter o mundo com as suas dissertações redundantes; com as suas panaceias irrisórias; com as barragens que erguem à sensibilidade da poesia.
as palavras logram transformar as benesses dos indivíduos numa verdadeira camaradagem; numa autenticidade que se alonga pelos caminhos do bem; em poemas que se traduzem num sempiterno fervor humano.
as palavras aquentam nos bolsos dos poetas depois de inflamarem o universo; depois de impelirem as pérfidas atuações humanas; depois de almejarem a vã glória e a supremacia; depois de infringirem as leis vigentes com imprudência.
as palavras repousam nos esconderijos da inconsciência para depois suprimirem a monotonia com os seus discursos afetivos; com as suas lágrimas e os seus sintomas de agudeza; com as suas veementes efusões.
o corrupio das palavras recheia o meu viver nos lugares onde a harmonia se desdobra em múltiplos afetos; em páginas de controlo assético a este mundo irracional; a esta moagem frenética de crueldades inverosímeis.
o recreio cinge-se às palavras que amadurecem o meu pensar e as minhas dúbias reações ao universo: elas contêm chispas que iluminam os meus arroubos poéticos; e enigmas onde examino as posturas belicosas em meu redor.
o mundo inspira-me a escrever sobre os seus trejeitos hipócritas; sobre uma pacífica ordenação onde se possa arrevesar a sua textura sadomasoquista; onde se possa impedir a posteridade agoirenta que ele origina.
hoje falo da postura dos homens quando agudizam as suas brigas: eles arbitram as suas profundas desavenças para instalarem no mundo um oásis falseado; eles nomeiam um arauto espiritual que patenteia hipocrisia.