quero olvidar os sobressaltos que me neutralizaram nos azafamados destinos do mundo; quero promover a esperança numa poética textura que recuse as farsas humanas; quero redimir-me dos insucessos que emergiram dos maus-tratos ao meu temperamento.
as adversidades são minúcias que desprezo quando me instalo na tribuna da poesia; quando digiro as ambições que transporto para pelejar contra os fracassos prematuros; quando me abasteço com palavras relevantes.
tenho pressa em exprimir palavras contundentes que acusem a vulgaridade geral; que neutralizem os lugares túrgidos onde se esvaziam as almas; onde o desafeto faz o seu ninho na árvore opaca da egolatria.
eu gostaria que o meu país alcançasse o desafogo onde todos ficassem eternamente instalados: onde o conforto rejuvenescesse os seus hábitos; onde os prazeres da existência sustentassem as suas façanhas e devaneios.
a farsa inscrita nos atos perverte a nossa sensibilidade; acirra as nossas mágoas; aproveita-se das nossas fraquezas para crispar as virtudes que possuímos; para envolver as nossas vidas num convívio degenerado.
observo as minhas brigas com recato para depois as desenredar numa existência benigna; para que a liberdade compense as minhas primitivas amarguras; para que não tenha de prantear.
trago a virtude no bolso quando me protejo dos tumultos que me circundam; dos estigmas das obrigações sociais; dos atos solenes da humana condição; das peripécias que avalizam as minhas desventuras; das minhas lágrimas doloridas.
tudo o que consta da minha poesia resulta do despotismo que me cursou o alvorecer: os recantos onde sarei as minhas equimoses; as próteses que adquiri nas lidas mundanas; os jardins miríficos que inventei para anestesiar o meu viver.
analiso os contextos malévolos que me rodeiam para que os seus desenlaces me instruam sobre os golpes que padeci ou para que a sabedoria catalise as minhas abundantes emoções.
por que a Humanidade não ouve o silêncio...
