Calma de Baiana (Brasil da Miséria Insana)

Ela veio lentamente 
E, quando chegou, ficou parada...
Frente a frente com a lixeira.
Então mexeu sacolas que trazia consigo...
Jogou uma caixa azul escuro no chão
Depois pisou encima dela.
O minuto passou.
O ônibus passou.
A moto passou.
O caminhão passou.
Aquela velhinha com um boné rosa encardido
Colocou a caixa azul amassada na sacola,
Era como se o seu cadáver estivesse ali
Por forte razão de nenhuma razão.
Por isso, seu corpo fora testado com todos os Baques.
Com algumas forças e, em mais alguns minutos,
Ela reergueu todos os seus badulaques
Observou de novo a lixeira
Não havia nada naquela.
Saiu caminhando junto à correnteza fria
Naquela asneira, naquela poeira, naquele terror
Mais um dia.
Com uma calma de Baiana, sabe,
Com uma alma de Brasileira... 
Dizem que a esperança nunca morre
Mas ali a esperança morreu inteira.  
Culpa negligente de uma minoria lá de cima,
Que pela fome alheia se saboreia
O teatro
Era como se o tempo estivesse parado.
Era como se a paisagem
Rimasse perfeitamente com o clima.
Brasil da miséria...
Brasil da opressão. 
Brasil da baixa auto-estima.
Não venha me dizer que não!
Brasil da farinha do enredo.
Muito além da televisão e da sua manipulação
É aqui, onde eles fazem a chacina do medo.
 
Seres humanos?...
Governos?...
Ações?...
A velhinha morreu lentamente, sem opções.
E ela era só mais um grão de areia 
Nesse imenso deserto de tentações...
Enquanto corremos atrás do nosso futuro 
Enquanto esbanjamos, o sangue corre
O suor corre
Tem gente correndo atrás da vida toda hora.
Vê se fecha o teu bico hipócrita,
Tem gente sofrendo lá fora...
E mesmo sabendo disso, o dia seguiu.
No badanal do de repente!
No estribilho que ninguém viu!...
 
18 . 09 . 2014
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