A BORBOLETA

As duas taças na mesa:
simetria exata do espelho.
Como tudo tem um igual, 
um reflexo, 
tenho o mundo como 
reprodução do que penso:
os cães que ladram nas ruas,
as árvores de pássaros,
os pássaros no vento —
tudo sou como imagem.
 
Aquele rio ao longe 
já fora mais vivo.
Hoje é plácido
porque meu pensamento
está mais sereno que outrora.
 
As montanhas
são a imensidão da mente,
são verdes, sinuosas
e rígidas;
e se encontram na iminência de um desabar.
 
Saio da janela
e vejo uma borboleta no ângulo
do teto.
Suas asas são largas,
pontilhadas,
policromáticas.
Têm formas,
círculos,
pontos,
linhas.
Ali está toda 
a complexidade
e ignobilidade
do que há em minha alma.
 
Mas, não.
O mundo existe indiferente ao que penso.
Quisera ser o mundo...
Encontrar toda a gente 
em todo canto.
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