Indiferença
Viraste a página que te cobria
Como se fosse um quente e escorregadio cobertor.
A descoberto saiste para o dia
Que te amanheceu,
Que te recolheu,
E te envelheceu
No iluminar do teu tempo.
O tempo não era teu
Mas levaste-o contigo na carteira
E fizeste dele uma brincadeira
Para que se passasse sem notar
Que também envelheceria.
O velho da esquina passou
Nem sequer te falou,
Com os olhos
Ou o coração.
Outros olhos viram-te e guardaram-te
E tu passaste,
Sem os teus olhos,
Sem coração.
Voas como condor
Enquanto o sol te escurece
Na sombra do entardecer,
E a lua te oferece
A saudade de poderes esquecer…
O quê?
Deitas-te e a folha volta a cobrir-te.
O dia ficou em branco
Amanhã poderá ser igual,
O velho da esquina
e os olhares do canto.
Esqueci-me do resto,
Amanhã logo me levanto.