Entrevista com o nosso autor Armando Neves
O autor é natural de Tábua, onde nasceu no ano da Revolução Cubana. Ainda jovem acompanhou a família até Coimbra, cidade em que viveu duas décadas e se licenciou em Ciências Farmacêuticas. Depois de viver alguns anos na Figueira da Foz, onde ainda tem residência e volta sempre com muito gosto, fixou-se em Lisboa para desenvolver a sua actividade profissional, de mais de três décadas, nas áreas de Marketing e Vendas, em dois prestigiados laboratórios internacionais da Industria Farmacêutica.
Enceta, em 2021, uma nova carreira, que deseja auspiciosa, dedicando-se a uma das suas maiores paixões de sempre, a escrita ( poesia e prosa ).
Sempre com a chancela da Poesia Fã Clube, onde foi muito bem recebido e é estimado, publicou, até agora, as seguintes obras poéticas: “ Entre o Mar e a Lua Cheia” ( 2021 ); “Aurora Boreal” ( 2022 ); “Poesia Insubmissa” (2023 ) e “ Versos, e Lugares, Com Gente Dentro” ( 2023 ).
Dando inicio a uma incursão pelos caminhos da prosa, que gostaria de continuar a intercalar com as “erupções” poéticas, tem finalizado o seu primeiro livro ( a aguardar bons ventos de publicação): “ Uma Gota de … Luar”
* Por opção, o autor escreve com a antiga ortografia.
Qual foi a inspiração por trás da sua última obra publicada?
R: Senti que havia necessidade de ir buscar ao largo portfólio de poemas que tenho um conjunto de textos poéticos que fizessem a justa homenagem a pessoas e lugares que mexeram, mexem e continuarão a mexer comigo.
O titulo que escolhi para esse meu 4o livro de poesia não poderia ser outro: “Versos, e lugares, com gente dentro” . Certamente que ficaram de fora, por limitações de espaço editorial, algumas pessoas e bastos lugares que mereciam ser dados à estampa. Mas fiquei satisfeito com o produto final.
Qual o seu processo criativo ao escrever um livro?
R: Explico isso, da forma mais honesta que consegui, na página 5 deste meu último livro: “ Os meus poemas nascem de impulsos. Por vezes a inspiração acorda-me a meio da noite e impele-me, prepotente, para for a da cama, em busca da caneta e da folha de papel. Mas a “fonte” criativa pode ser uma fotografia, um sorriso intenso de fugaz, uma folha outonal que se desprende do seu efémero pedestal, um deslumbre do palato, uma paisagem de fazer suster a respiração, um miar de gato, uma canção. Uma catedral de luz, um trecho de um livro ou um salpico de Mar. Mesmo uma “sereia” ou um sonho de uma noite de verão”.
Existe algum tema ou género literário que gostaria de explorar no futuro?
R: Alguém disse, um dia, que é muito difícil a um poeta invadir outros campos literários com o mesmo sentimento e mestria que o impelem a sua alma poética. Tal como nunca será fácil a um bom prosador irromper, com notoriedade semelhante, no mundo inconstante, por isso belo, da poesia.
Não discordando, em absoluto, desta tese, considero, todavia, que a prosa e a poesia não são dois compartimentos inevitavelmente estanques. Falo por mim e, por isso mesmo, fazendo, até agora, com quatro livros publicados e material já escrito para mais dois ou três, da poesia a minha primeira forma de expressão literária, já concluí o meu primeiro projecto em prosa, embora ainda aguarde as condições e o tempo ideal de publicação. Tem cerca de 250 páginas e tem o título de “Uma gota de … luar “. É um livro que pretende ser como que uma autobiografia adicionando à prosa, maioritária, poemas e textos humorísticos a cargo de um personagem que saiu da minha imaginação, o Cónego Marreta.
Como lida com os bloqueios criativos ou momentos de falta de inspiração?
R: Ainda não sei responder cabalmente a essa pergunta. Na verdade, e felizmente, ainda não me confrontei com esses “buracos do ozono”. As ideias têm fluído sem interrupções e a bom ritmo. Na leitura de um livro, numa ida ao café, nos variados momentos do quotidiano tenho conseguido encontrar a inspiração para continuar a criar. Espero bem que este estado de graça possa perdurar por muito mais tempo.
Quais autores ou obras influenciaram a sua escrita?
R: Mais autores e não tanto obras. Acima de todos, na poesia, o sublime Eugénio de Andrade. Mas também Cesariny, Ary dos Santos e a delicadeza de Sophia. Embora Pessoa seja sempre incontornável, tal como Jorge de Sena. E depois, lá fora, gosto muito de Mário Quintana, um espanto de sensibilidade, do Carlos Drummond de Andrade, do Neruda e do Lorca.
Prefere escrever à mão, no computador ou em outro meio?
R: Hoje em dia é raro escrever à mão. Preferencialmente faço-o no Ipad e, algumas vezes, sobretudo quando não estou em casa e surge um motivo de de inspiração, no próprio “Pages” do telemóvel.
Quais os seus hobbies ou interesses fora da escrita?
R: Muita leitura. Construí, ao longo dos anos, uma considerável e diversificada biblioteca. Muitos livros sobre História onde gosto, particularmente das “Edições 70”, biografias dos grandes vultos que foram protagonistas da História recente da Humanidade, as grandes obras dos grandes autores e, claro, muitas antologias dos nossos grandes poetas com evidente realce para o notável esforço editorial da chancela “ Assírio e Alvim “. Gosto de assistir pela televisão a um bom jogo de futebol. Desde muito pequeno que fui atraído pelo “Beautiful Game”, como dizem os ingleses. A ponto de uma das minhas “paixões” ser o colecionismo de cromos de futebol e de não dispensar a leitura diária de “ A Bola” que tem sido a minha “dependência” de sempre. Interesso-me pela política e pela geopolítica procurando estar muito atento ao que se vai passando neste mundo em convulsão.
Se pudesse escolher um livro para recomendar aos seus leitores qual seria e porquê?
R: Essa pergunta obriga-me a uma demorada reflexão. Se me perguntasse, por exemplo, qual o meu filme de culto, ou o meu álbum e banda preferidos, inclusive, aquela canção que mexe sempre comigo, eu teria a resposta na ponta da língua. “Voando sobre um ninho de cucos”, “Dark Side of the Moon”, Pink Floyd e Dire Straits, ”Imagine” e “The Sound Of Silence”. Mas quanto ao meu livro preferido acho que ainda não consegui fazer uma escolha definitiva. Gosto de muitos dos que li e, até por abordarem temáticas diferentes e serem escritos em formatos distintos, que vão do romance ao ensaio, ou ao livro de contos ao livro de crónicas, seria injusto escolher só um. Mas, para não fugir à pergunta, e adoptando o critério dos livro que que li recentemente e dos quais mais gostei, recomendaria a obra de Leonardo Padura, “O Homem Que Gostava de Cães”, e o livro “Submissão” de Michel Houellebecq. O primeiro é um espantoso romance que, a propósito da historia de vida de três personagens, Trotski, Ramon Mercader, seu verdugo e Ivan, um simples cubano que sonhou ser escritor, nos fala da utopia mais importante, e devastadora, do século XX, o Comunismo ou, como é dito a certa altura do texto: “o sonho estrictamente teórico, e tão atraente, da igualdade possível”. O segundo é um livro que se lê num fôlego. É uma premonição sobre os grandes desafios que a França, mas também uma grande parte da Europa, terão que enfrentar no curto, médio e longo prazo, face ao exponencial crescimento das comunidades islâmicas nos seus territórios.