Século Vinte e Um.

Século vinte e um!
Século da informação!
Da tecnologia de ponta!
Da evolução da espécie!
Da inteligência artificial!...
Tudo se modificando
Mais depressa! Uau!!...
Século vinte e um
E o nosso jogo
Cada vez mais animal...
 
Século vinte e um!
Obrigado, economistas-Deuses!
A globalização untou mesmo os nossos comércios...
E as nações juntaram-se em blocos!
Mas nada que nos seja de muito benéfico
Das frações calibraram-se os flocos!...
 
Obrigado, bolsa de valores!
Mas a inflação humana
Ainda perfura o bolso dos nossos valores...
(E as pessoas que sobrevivem
Sobrevivem comendo lixo
De seus matadouros
De seus instantes finais
De seus calores em pedaços
Como bichos...
Jantando passado recente
Dos amores carnais.)
 
Obrigado, homens de terno!
Da política perfeita e ambiental...
Graças às suas ideias geniais
Hoje vivemos nesse século virtual!
Industrializaram-se seres humanos mais frios...
E, uma só década, muda, radicalmente,
Todos os nossos orgãos internos
Por parafusos e pacotes de fios!
 
Obrigado, moda!
Por sua causa
Hoje somos publicitários!
Como as placas da avenida...
Porque, até que alguém
Nos prove o contrário
Os slogans serão à nós
Belezas de vida...
 
Obrigado, magnatas!
À vocês, não digo nada!
Nosso sentimento, hoje,
É um cabo de alta potência
Conectado à tomada!...
 
Obrigado, acesso virtual
Graças à você
Comprei uma calça animal!
Direto de Nova York
E uma passagem pra capital...
 
Obrigado ao nosso luxo!
Obrigado ao nosso dinheiro!
O homem lhe atribuiu todo valor
Nessa era 
Motivo que fundamenta os
Dois extremos:
A Elite e a Miséria...
 
Dona miséria ainda vive fora
Desse 'espetáculo' Informacional
Disse que nunca mais vai ir embora
Desse invento tão sensacional.
Dona miséria ainda vive fora 
Das reuniões empresariais...
Dona miséria é que sempre demora
No estudo subalterno...
- Eu clamo benção, peço paz. 
 
E fora de todo o âmbito social
 
Obrigado ao banco do dinheiro sem lei
Meus cartões de crédito eu nem sei!
 
Muito obrigado à ajuda policial!
Mas ainda somos nós que sofremos
Violências no quintal...
 
Dois mil e quatorze
Somos produtos rentáveis
Somos energias renováveis
 
Obrigado, futuristas!
Mas ainda continuamos longe...
Na medida em que avançamos,
Longe...
Das conquistas dos planetas e dos monges.
Por isso não reclamem!
Não reclamem dos tsunamis
Nem das erupções vulcânicas
Nem das forte correntezas
Que passam levando tudo...
Os sismos são provas leais
De que somos homens e só homens
Perante a rica lei da Natureza.
 
E a nossa medicina humana
Salva tantas vidas!
Todos os dias!...
Não é? Que beleza!
Podem deixar
Rezaremos aos Cientistas-Deuses
E aos seus laboratórios tecnológicos
Com todos acessórios de primeiro mundo
Enquanto eles não chegam nos nossos portos pequenos
Os ratos corroem o lugar dos nossos leitos imundos
 
Nos confins da miséria
É que se espalham os surtos!...
E das mais fortes epidemias!
Pragas, milhares de platéia
Sobrevivendo ao submundo
Dos vermes e da agonia.
 
A paz mundial é um elefante branco
Armado de tanque fandango.
 
Eles dizem que há para todos
E que todos (todos) comem
Peça! E a ajuda se fará de surda
Enquanto a miséria morrerá de fome!
 
Enfim,
Eis aqui, e noutro trecho algum
Minha única gratidão pra valer
Obrigado, século vinte e um!
Foste o século do meu viver...
 
26 . 07 . 2014
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