VAGABUNDO

Vagabundo que viveu e vive nas sombras
Esquecido treme de frio nas noites sem fim
Com fome, sede sacia o cansaço na sua própria solidão
Imerso no seu silêncio, na escuridão senil
Alma solitária, vinda do escuro da luz
Queima o inferno na coincidência da vontade divina
Esquece tudo, até mesmo as suas próprias deficiências
Solidão compartilhada no seu silêncio desligado do mundo
Vagabundo nas ruas da vida, encontrou um lugar para brilhar
O seu próprio coração magoado, senil, triste e maltratado.

FLORES FELIZES

- Sejamos felizes sem mentira
Sem desafeto, sem ilusão, sem amor
Afinal amamos todas aquelas flores
Aquelas que nascem entre rochedos
Flores que não hesitam em desafiar
A secura das folhas na brutalidade das pedras.
Sejamos livres de todas as palavras que nos ferem
- Da angústia que chega sem aviso
E da maldade que nos assombra todos os dias.

 

LÁ LONGE

Lá longe, longe perdido nas águas profundas
Do rio que corre, que passa entre as fragas
De seixos escorregadios onde sofro sozinho
No respirar de um simples suspiro de dores

Sede partilhada da tua boca sobre ondas
No desaguar da foz, andam as andorinhas
Nevoeiro de murmuro de uma oração ausente
Feita de argila estéril, seca de morno sangue

NOITES

Ando a procura na noite
Dum grão perdido na areia
Noites com a densidade sufocante
Onde a lua permanece no céu
Acompanhado de nuvens cinzentas
Noites em que as pálpebras
Não querem cedem a fadiga
No doce sabor do teu sangue
Que corre pelas minhas veias
Percorrendo meu corpo
- Ao encontro do teu
Alimenta-me com o teu amor
Pois o meu corpo esta febril
- Sedento de fome
Tento encontrar-te meu amor
Neste deserto esquecido
Dentro do meu pensamento.

PÁGINAS ESCRITAS

Somos um segredo de pequenos traços
Somos os filhos do tempo, do nosso rosto
Somos a marca do momento das eternas rugas
Somos frágeis vimes que se desequilibram
Somos as chuvas de verão das nossas dores
Somos espaços vazios de renúncias e lágrimas
Somos muitos desafios nessa luta constante
Somos tempo sem tempo de amores e dissabores
Somos o equilíbrio da nossa própria vida
Somos o vento que derruba as folhas no chão
Somos páginas a ser escritas bem delineadas.

 

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