(Des)ilusão

Saiu hoje o resultado fatal quase até imoral
Que queimou dentro de mim a ambição
De puder crescer moldando a palavra
Como quando a vida em nós escava
E não encontra qualquer solução

Tantos sonhos, criados em finos contornos
Enleados em tecidos de fino cristal
Que agora padecem sem grandes adornos
Morrendo porque morreu também o seu ideal

101 Profissões de Jomad

É agora com muito agrado
Que vos conto mais um bocado
Da historia de Jomad’o sado
Feliz poeta mas, triste desempregado

Podia ter sido um doutor
Mas do sangue tinha pavor
E tremia-lhe demais a mão
Era do álcool pois então

Pensou depois em ser engenheiro
Dizia que se ganhava muito dinheiro
E ele até tinha algum talento verdadeiro
Pois projetou e criou até um belo fogareiro

Declarante no Tempo

Quando o sol toca a tua face
Fazendo-a colorir em tons alface
Sinto a alegria de contigo sonhar
E contigo o meu mundo partilhar

Quando o azul do céu ilumina o teu rosto
Cobrindo-o de girândolas e flores a teu gosto
Sorrio-te agarrando com força a tua mão
Envolto nos véus que protegem esta paixão

Quanto a chuva bate suave chorando
Em teus olhos, o caminho procurando
Lava a tristeza que também me envolve
Quando falar apenas de nós nos comove

Momento de Glória

Anseias pelo momento
Aspiras e respiras a vitória
Sabes que é agora ao sabor do vento
O teu momento de glória

Apenas mais um esforço
Obrigas o teu cansado corpo
Bebes água como reforço
Desesperas pelo abrigo do porto

A emoção cresce a cada minuto
Os olhos concentram-se em ti
Era um sonho ainda em bruto
De venceres por fim aqui

A linha branca marca a glória
Já no fundo ela se avista
Será teu este momento de glória
Apenas mais uns metros de pista

O Graal

Busco apenas o santo graal
Não é por orgulho ou outra necessidade
Apenas queria ser de novo imortal
Viver muito para além da verdade

Ser puro e simples como a água
Viver sem conhecer tristeza e mágoa
Ser anjo lançado no céu planando
Conquistar mundos apenas sonhando

E ser apenas sempre eu sempre apenas…ser
Mudar mas nunca esquecer... nunca… mas mudar
Parar mas sempre andar sempre parar…mas

Dez maneiras de fazer porcaria

Não pensem à primeira vista
Que é tarefa fácil sem qualquer pista
Pois fazer porcaria é uma arte
E até os peritos apenas dominam parte

Temos todavia bons exemplos a seguir
Desde falsos profetas até profetas a fugir
De homens que puseram as mãos na massa
Para limpar a porcaria que em Portugal grassa

E não pensem que fica limitada a um setor
Que apenas afeta um doutor ou um professor
Quando grave o seu cheiro tudo devassa
Escapando apenas quem de alto poleiro a faça

A pobreza de um ser

Ser pobre não é ser inferior
É apenas viver em contínuo terror
É temer com aflição o negro dia
Em que morre todo o esforço feito no dia-a-dia

É desalentadamente implorar alimento
Sabendo bem o que é o desalento
De não ter um futuro crivado de paz
De nem a família ajudar de forma capaz

Nasceu pobre mas ainda assim honesto
Apesar do rigor da vida, é ainda assim modesto
Tal como modesto é o seu simples protesto

Dias Sombrios

Foi mais um dia, uma manhã triste e sombria
Daquelas que por vezes nos vêm acordar
Dia chato e longo em que o meio dia parece ser o fim do dia
Pleno de abandono onde impera apenas, o puro azar

Existem apenas para grosseiramente compensar
Aqueles dias radiosos, inundados de luz e cor
Para tudo à sua volta apenas negativizar
Para abalar o teu espirito e aumentar a tua dor

Traição

Quantas lagrimas terei de derramar
Para a minha alma lavar
Aqui espojado neste chão
Aguardando a clemencia do teu perdão

Sei que dei alento ao verbo atraiçoar
Mas não sabia a quem amar
Fiquei confuso no momento
Não sabia mesmo o que dizer o que falar

Era parecida contigo, tinha todos os ideais
Pareciam momentos irreais
Pois nunca ninguém te será igual
Foi apenas a fraqueza que fez parecer tal

Amor Incondicional - Para Manuela

Não tenho muito para te dar
Apenas o meu amor incondicional
Agora que os teus quarenta estão a chegar
E nada mais ficará de novo igual

Sei que é uma fase complicada de entrar
Em que a idade também te começa a pesar
Mas tens-nos a nós para te acompanhar
o Gustavo e Matilde e por vezes até eu para cuidar

De dois passámos a quatro, a família cresceu
Necessitamos de uma casa maior para morar
Mas sem nem um emprego bom tenho eu
E que eu saiba ainda não se paga apenas com o verbo amar

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