a farsa mundana entroniza uma dança decadente que se imiscui nos nossos projetos para os adulterar; para trair os nosso sublimes ideais e saquear as nossas conquistas incorpóreas; para inverter o sentido das nossas genuínas afeições.

foi tempo de revelar os descabelados horizontes que percorri para atingir a liberdade; os sintomas benignos da minha austera condição; a minha estadia num oásis profícuo onde pude descrever a minha alegria vigente; os meus passatempos juvenis.

trauteio cantigas que endereço às pessoas para que elas amorteçam o seu tédio e os seus obstáculos; para que a razão penetre nas intempéries que sofrem; para que depositem as suas penas nos armazéns da sociedade; para que a sua luta se desenvolva contra os preconceitos gerais.

as dádivas que o natal faculta nas redondezas dos nossos ódios... nos degraus íngremes que conduzem à solicitude e ao encantamento... nas representações sublimes daqueles que interiorizam a festividade... nos banquetes que se desejariam infindos para que acalorassem as nossas vidas...

resgato a virtude para a dispor num lugar que exalte os seus imperecíveis valores: num retrato emoldurado onde figurem as pessoas de bem; onde elas se entendam através duma grata convivência; onde o escárnio e a desgraça não sobrevivam.

enalteço o modelo de liberdade que ascende a via do progresso através dum desempenho que poderá regenerar-nos; que poderá transpor as nossas interações para a esfera da solidariedade e da razão; que poderá temperar os nossos comportamentos malvados.

concentro o desvelo na lâmpada que ilumina a inspiração para que a minha existência possa testemunhar engenhosas figurações; os exageros fecundos que as originaram; as dádivas poéticas que concedo aos meus leitores.

o ímpeto dos poetas ultrapassa o desempenho normal quando aprofunda o sofrimento dos outros: as detonações emocionais provindas das guerrilhas que os cercam; os convívios agrestes potenciados pela vassalagem e pela mistificação; a indigência que os brutaliza.

as minhas vicissitudes são transportadas para um sepulcrário de emoções falidas; para um ostracismo que se apoia nos sustentáculos da minha experiência; para um possante motor que filosofa sem parar; para um recreio infindo ornamentado pela minha poesia.

Ao som lírico d'um velho bardo
Desfilais por vossa maravilha,
Mi mui amada Senhor.

S'em vós enchentes sorri de prado
Digno de tais reachos d'olhos fervilha
Mi mui amada Senhor.

Mas ai! que logro ua fiada em tudo
Que dói, m'ei de rogar a partir a ilha
Mi mui amada Senhor.

Nem lagarto o fea quebrarom mi escudo
D'amores que nom senti nem por filha.
Mi mui amada Senhor.

Vosso mui belo rosto é meo amuleto amado
P'ra males calar e viver p'la armadilha
Mi mui amada Senhor.