borrifo o meu lar com os devaneios que grafo nos versos; com os julgamentos acerados que enuncio para transverter o mundo que me torneia; com as marcas da esperança que instauro para abolir a tristeza.
a paz transporta o universo por uma vasta rodovia que acaba na indulgência; nos momentos serenos que obrigam a esquecer os nossos atos brutais; os nossos ridículos destemperos gerados pela necessidade de conquistar.
flutuo sobre os escombros do passado para adquirir uma sabedoria que transforme os meus mitos em límpidas verdades; em factos irrefutáveis que traduzam o lado racional da minha existência vigente; a evolução sistemática dos meus versos.
o panorama que entrevejo é conspurcado pelo negrume dos nossos malignos desempenhos; pelos destemperos ofensivos das nossas interações; pelas narrativas deterioradas das nossas imposturas; pelas atmosferas repugnantes das nossas enxovias.
os meus poemas deslocam-me dum redondel para um abrigo natural onde os valores das sociedades redundam num chumaço de juízos ultrapassados; onde as minhas análises percorrem os destinos volúveis da humana condição; onde a utopia se instala.
considero o universo uma bola de papel que se incendeia ao menor tremor provindo das hostes que o sustêm; que transporta consigo o legado de milhares de anos de sofrimento causado pela penúria e pela violência gratuita; por uma ignóbil castração.
