concretizo a minha ambição alojando a existência sob os toldos urbanos: nos balizados lugares onde desejo compreender aquilo que me rodeia: as mágoas das pessoas e as suas intermináveis disputas.
introduzo-me na alma das pessoas para desmascarar as suas virtuosas figuras: patenteando as suas despóticas ambições; sobressaindo a besta que têm dentro; desmontando a sua essência fingida.
junto aos meus insucessos está o descalabro da minha razão; os inválidos contextos a que aderi para ultrapassar o meu deserto emocional; as travessuras que incorporei no meu testamento poético; os conselhos imprudentes que absorvi da minha existência febril.
as palestras que escutei tinham o odor das sociedades antiquadas; os esmeros daqueles que se roíam de nostalgia para integrarem a fileira dos senis; que reclamavam a plangente solidão.
os temperos oriundos da razão valorizam a minha alma com demonstrações de sabedoria; com ideias que circulam pelas ruas estreitas da vida para desembocarem numa avenida principal; que repuxam o engenho da minha mocidade.
admiro as ideias daqueles que buscam a perfeição; que desoprimem o universo quando lutam contra as perversas maiorias; que desmancham as intrigas humanas; que esfraldam o amor nos terrenos minados pelo desespero.
finco a razão no palco dos meus desacertos para incinerar a roda-viva dos instintos; para reduzir a poalha que me impede de lobrigar a paisagem que me torneia; para absorver nos meus versos a incauta fantasia.