calmaria
Autor: António Tê Santos on Saturday, 8 February 2025a sombria paisagem que avisto quando percorro os trâmites das minhas rebeliões... os brados furibundos com que impugnei o autoritarismo... as farpas aguçadas que cravaram em mim...
a sombria paisagem que avisto quando percorro os trâmites das minhas rebeliões... os brados furibundos com que impugnei o autoritarismo... as farpas aguçadas que cravaram em mim...
o fraseado que se eleva da poesia tem dizeres que atuam sobre o intelecto para obstruírem os seus complexos; para que ele abandone o barco naufragado da vida e enverede por uma obstinada indulgência; por um sossego interior.
apreendo a farsa que se sobrepõe ao convívio humano quando integro no pensamento as lágrimas geradas pela submissão aos imperativos dos deuses; às suas mensagens inúteis; às suas promessas goradas.
quis ripostar às lengalengas maternais: aos sucessos extraordinários que eu alcançaria se torneasse as querelas familiares para me distinguir como um modelar cavalheiro; ou como um vulgar e competitivo bonifrate.
os versos diletos que eu lavrei para impugnar o meu desabrigado comportamento... as tempestades que me perturbaram o juízo... as escarpas das minhas ilusões... os abraços tóxicos das pessoas que conheci...
Metamorfosear as cores sonhadas
o paraíso mais lindo,
o voo sobre as flores mais perfumadas
marcar por um instante,
o olhar paralisante de humanos que as observam passar!
Animais domésticos, admiram seu voo e o seu desfilar
gatos e cachorros, avançam querendo brincar!
Redes não estão autorizadas!
Estas, não contemplaram o voo poético
da charmosa borboleta.
houve um tempo em que vedei o meu direito a ser feliz e a reaver a minha sensibilidade extraviada: foi tortuosa a indisciplina que me levou aos confins da amargura; foi uma mutilação que fiz a mim próprio para escandalizar o universo.
desenvolvo a crença nos meus méritos para executar as tarefas vinculadas aos temores da alma; às palestras desmesuradas que escutei; ao cadastro das pessoas malvadas; aos imbróglios a que sobrevivi.
ultrapasso as condutas viciosas para me introduzir nos roteiros palmilhados pelas almas impolutas: onde a minha vida se resguarda dos inúmeros temporais; onde a calmaria prepondera para afagar os meus versos.
silencia a virtude quem intenta submeter o mundo com proezas autocráticas; com desempenhos que denotam execráveis ambições; com a grosseria absorvida por uma existência impiedosa; com máculas que guarnecem uma inóspita solidão.