Baú

Abri a carne e exibi o peito ao som da raiva incessantemente incessante do silêncio,

rendilhei o baú e abri-o todo,

gozar com o universo sabe mesmo bem,
e o baú nunca se queixa
da pancadaria à volta do eu.

Coisas de nuvens fazem chover,
um baú pode ter um sofá fora dos tesouros,
é uma questão de escrutínio esquisito,
e abraço o que sei dentro do tesouro,
fila em círculo onde o nada só gasta,
procura calmo na casa do desaforo,
em nome do Nosso Senhor Baú iconoclasta.
Baú amado,
cuspi as tuas purpurinas enquanto incendiava o meu carro roubado antes das havaianas.

Embelezei a tua morte
enquanto brincavas com as emoções dos pobres ao virar da esquina,
enfim,
o teu coração roubado já não é louco,
e com força arrotas a chave,
és dourado dessa alquimia de novo roubadamente devolvida à tua seletiva vontade.
És mais profundo que esse Evereste pontapeado,
também eu canto o paupérrimo que abrange a guitarra e o piano que te são, guardas o saxofone e todas as salivas para ti enquanto és louco para nós, pois o nome do poder é cedido a quem nem encontra o tesouro ao sabor da nossa idiotice, acelerada pela vontade de abranger onde nada se existe sozinho.
E sim, adoras-te e adoraste.

A fotografia agarra-te e tu come-la,
mas para já compras uma casa duas vezes em cantos opostos,
e descobrimos novos baús,
não há deserto que recorde os teus jornais, as tuas fotografias,
a tua alma, os teus tesouros,
a tua alma, os teus tesouros,
e por aí fora.
Não há memória que apague o teu esquecimento,
por aí se jorra o que o baú esconde e não esconde,
enquanto se deambula pelo que és dentro,
até ao dia em que por fim todo o baú só se arredonde.

Ah, como é bela a poesia, e o resto.

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