Culinária (18 e 19-04-2013)
Sento-me à mesa
E tu estrelas o ovo enquanto eu encho o copo com água
Não me rebentes o ovo!
E contas coisas que te preocupam
Como os Homens que são maus
(Eu sou Homem – falas tu de mim?
Ou falas numa generalização hipotética? –
Tu bem sabes que há Homens que não são assim!)
Tem-me atenção ao ovo!
Abano a cabeça que sim
Porque contradizer a tua ideia é chamar-te à atenção
É dizer que estás errada, que não é assim como dizes
(E isso não se diz a uma Mãe!)
Cuidado com o meu ovo!
Agitas a escumadeira elegantemente
Pois estrelar um ovo é algo que fazes há anos
Mas até mesmo os profissionais estragam de tantas em tantas tentativas
A arte que criam com as suas próprias mãos…
Ah…!!!!
Dizes tu com espanto desmedido
(Aquele que fazemos quando ficamos muito aborrecidos com algo)
Rebentaste o meu ovo?
Não faz mal!
Há tanta coisa aborrecida no mundo
Como a morte de pessoas inocentes –
Aquelas coisas que nos causam perturbações sentimentais –
A queda de torres, a explosão de comboios, o despenhar de aviões propositadamente…
No fundo, a Morte não natural, aquela causada pelo Homem
Que tu, Mãe, consideras de tudo ser capaz
(Achas mesmo que eu seria capaz de matar?)
E se não fosse a tua mão, quem me estrelaria o ovo? Eu?
Não te preocupes – eu também não o farei…
Serve-me o ovo e começa por estrelar o teu
Enquanto eu percebo que há muito mais em que pensar
Do que em favores não atendidos ou preces não ouvidas
E a gema corre por cima da alheira, como uma pessoa ferida que espalha o seu sangue pelas pedras da calçada
Ou por cima do único filho que tentava proteger…
Olho para ti, agitando a escumadeira –
Fazes agora um ovo para ti
E voltas a falar da maldade do Homem
(E tu Mulher? És tu sem maldade?
Ensina-me, pois então!
Diz-me como não se magoa o próximo ou se protege um Amigo
Pois eu sou Homem e provoco dor, horror e sofrimento –
E isso custa-me porque sei que não sou assim!)
O teu ovo saiu bem: come-o!
Bom proveito!
Pedro Homem-de-Cristo
(Fonte: Renascer)