A Cura
É no vagar da noite mais intensa
É no clarão da lua mais imensa
Na vigília do sono que enlouquece
Ecoa a solidão mais triste
Essa chaga que no peito existe
Fragmento da alma que estremece.
É na procura do que é perfeito
Aquilo que é estreito e tem efeito
É que deságua a agonia a fio
É saber que a solidão é a sombra
Que pernoita na mente e assombra
O sonho dos que não tem alívio.
Enquanto tudo em volta corre
Enquanto tudo em volta se colore
Ainda assim o mundo parece cinza
Falta um pedaço do céu do meio-dia
Falta um pedaço de nuvem no clarão do dia
Um tom a mais na refinada tinta.
Não é a falta de vida neste cenário
Muito menos o canto mórbido do canário
Que prolonga este pranto e estio.
É a percepção de que somos metades
E que a outra metade é a cura que arde
Num coração onde o mundo é vazio.