Devaneio de Fim de Ano

Fecho os olhos e parto para os braços dos sonhos

hoje, quero apenas desistir da minha alma.

Na escuridão entre-mundos, no passar dos dias

quando vejo a minha alma ao espelho,

pergunto-me quanto mudei por dentro...

aprendi que a força de que preciso está no alto duma montanha

por vezes inalcançável

e como a vida pode minar a vontade quando sentimos o coração pesado.

Gostaria de criar um sonho e dele saborear cada pedaço

lenta e gulosamente...

Eu sei o que me espera nas memórias que não controlo,

mas que irei eu encontrar nos domínios dos poderes superiores?

Quando uma alma é velha como a minha, o custo pode ser pesado e eterno

e um andarilho do Paraíso pode procurar a paz em vão.

Nos lugares onde os corações são cultivados há frio e corre a dor

e até Ícaro desejou asas para voar do alto de escarpas para a noite de ébano.

As Idades dos Homens passaram fugazmente:

alegria, tristeza, paz e guerra amor e ódios tão grandes...

Toca o sino da igreja para quebrar este silêncio

mas vem tarde a fé que traz, e carece de verdadeira graça divina

eu, apenas ouço o seu som, oco, a soar através das sombras.

Não há muito tempo atrás poderíamos encontrar a verdadeira alegria no meio das florestas

mas elas agora estão cortadas por uma ganância que mata tudo quanto vê.

Onde está o coração que bate forte no amor seguro

ou o poder que leva o rio para uma praia distante?

Ah, esta Idade do Ouro, prisioneira duma campa suja

onde os Homens beneficiam com o engano e a mentira

onde a honestidade e o amor são apenas palavras

onde acreditamos que estamos no fim dos dias

onde temos perspectivas tão tristes quanto aço enferrujado

quando é o metal dourado quem governa...

Somos passageiros no banco de trás de uma limousine onde ninguém está ao volante

dirigindo-nos para um jantar, para o qual precisamos de reconsiderar a lista de convidados.

É preciso cessar as lágrimas para o próximo acto.

Como peões sabemos que o jogo continua, e as areias da ampulheta passam rápida e inexoravelmente.

Eu sou apenas mais uma alma caída em busca de sonhos para seguir,

e ninguém me vê chorar na noite para salvar alguma divindade distante.

Se pudéssemos ao menos acabar com esta pilha de lixo económico-social, que vai fazer com que o mundo acabe realmente,

mas não com um estrondo. Antes com os nossos gritos sonoros.

Mas se a morte pode ser percebida à distância

recusemo-la como mais uma forma de rebelião e independência

e assim terminará o pesadelo de Brahma, esse passeio arborizado ao longo do caminho desta difícil vida

que nos leva para algum Paraíso distante, de volta a casa...

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