A ESCADA E O CAIS

 

A ESCADA E O CAIS

 

 

luzes na noite

um rio

tecido negro

por debaixo do céu

precipício de sombras

espelho de arco-íris

 

 uma estrada de luz

 no meio do ser

 eu estava nela

 e tu

 urdias comigo

 um rito de fé

 e de fervor iludido

 nos meandros obscuros

 dos nossos segredos

 

 e havia um barco

 fantasiosa casa

 erguida aos ombros do mundo

 que o gigante poisou

 de mansinho

 na água oleosa

 recheada de luz

 

 olhámos de cima

 aquele palácio

 engalanado e rico

 de cristais e sons

 mas não encontrámos

 a escada

 nem havia cais

 como se fosse preciso

 mergulhar no negro

 da água funda

 para ascender ao cerne

 da nossa morada

 

 teremos ido

 ou ainda estamos

 com medo da treva

 que o luar não deslumbra

 que o sol não doura

 

 eu acho que o barco

 ainda lá está

 e o gigante ergue-o

 de novo aos ombros

 até que cheguemos

 

 

e vejo bem

uma verdade nua

ou mergulhamos mesmo

no rio profundo

ou ninguém fará

por nós e sem nós

a escada

e o cais

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