Eu criança
É sempre a mesma coisa, tudo tão igual, dia após dia.
Nesta transição de dia para a noite, felicidade para tristeza, constante rotação de efémeridades repetitivas, prolongo-me na sua monotonia relativamente fléxivel.
Provavelmente nunca serei aquilo que para mim tanto mereces.
Alguém que te leve a almoçar a Veneza, e a jantar em Paris.
Que te faça sentir mulher perante a plateia que incansávelmente tentamos impressionar.
As tuas necessidades saciadas com uma voracidade que não permite insatisfação, ou qualquer tipo de frustração.
O horizonte que eu persigo leva-me por outros caminhos, outros que se desviam contínuamente do teu.
Mais cedo ou mais tarde terei que ser meu amigo também.
Pensar muito menos em ti, e um bocadinho mais em mim.
Naquilo que eu mereco, ou aquilo que eu quero conquistar.
A solidão é a melhor conselheira, de mão dada com a noite vão me cantando canções de embalar, enquanto eu criança novamente adormeço nos braços do amanhã.