Eu nada sou, tu nada tens!
Ó céu que trovejas,
Porque não levas os meus espantos?
Eu quero que tu vejas,
O que possuo em meus recantos!
Trazes a luz, não me levas o escuro.
E eu vivo escondida nesse refúgio.
Trazes a força, não desfazes o muro.
E eu me esvaio em teu dilúvio.
O teu gritar por si só me arrepia.
Traz as memórias dolorosas do dia-a-dia.
Eu que eu morria com tudo o que sentia.
E sentia bem mais do que devia.
Do teu gritar, desfalecia a chuva.
Do teu falar, enfervecia a duvida.
Onde estás, onde vais?
Com quem estás, porque sais?
Pertences a todos, mas ninguém te pertence a ti.
Sou tua, mas não há ninguém que me pertença a mim.
Vives sozinho com o ruidento trovão a inimigo.
Vivo sozinha, mas não existe nem um amigo!
Sou eu e tu neste pobre mundinho
Tu tão distante, eu aqui, tão pertinho.
Tu tão ausente, eu estupidamente presente.
Neste mundo onde não te encaixas, nem eu sou gente.