Natal nascituro
Natal nascituro
Quantas coisas pra meu existir?
Quantos atropelos sem nexo
Tropeços sem adereços
Quedas e levantamentos expressos.
Pra me alimentar?
Quantos lavraram
Na busca do meu arroz feijão
Quantos bois morreram
Quantas vacas lactaram
Quanto ar me oxigenou
Quanta água bebi
Quanta cachaça dei pro santo...
Pra me transportar?
Quantos carros aceleraram
Quanta fumaça pro ar sopraram
Quantos buracos ultrapassaram...
Pra me curar?
Quantos médicos consultei
Quantos hospitais frequentei
Quanto remédio tomei
E a benzedeira enjoou de mim...
Pra me amar?
Quantas mulheres eu perturbei
Quantas juras eu profanei
Quantas pessoas eu magoei...
Pra eu nascer?
Quanta espera aconteceu
Quanta dor no parto causei
Quanta torcida pra eu vingar
E vinguei, sem refletir sobre tudo
Tudo aquilo que precisou existir
Tudo isto é incalculável
Somos 8 bilhões de nascituros
Todos à minha imagem e imperfeição
Neste planeta gravídico, natalício
E segue a vida como se nada disso
Tivesse acontecido...