O CIPRESTE QUE SE ERGUE NO PÁTIO

O cipreste que se ergue no pátio

Na calma neblina da manhã

Dita em arrogância e coragem

A vida que lhe sobra por entre

A seiva, a corrente e a vagem

 

Iniciáticas todas as imagens

Destes elementos imutáveis de real

Nós é que sobramos da paisagem

E nos esfumamos breves no coral

Na praia, na planície e no areal

 

Ficam os nossos objectos, os resquícios

Reais de nós, como rastos de lava

Pedaços de vida, rastos de caracol

E a carne quente e astral do que somos

Derrete, apodrece e arrefece, que cruel!

 

De tudo, quando o Tempo passa

E finge, em nós destruir o que se foi,

Sobra uma dúvida de ilusão tão baça

Que semeia, espaçada em paisagens

De desgraça, tudo o que nos sobra e nos dói!

 

Rogélia Maria Proença

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