Seis

Ouço os gritos das crianças. Lá ao longe, afagados por um sol que começa a raiar e um  corpo que de tão preguiçoso não se força por erguer. 

A visão está turva e pergunto-me se realmente acordei. Vejo os lençóis abertos no outro lado  da cama. Ele já saiu e eu mantenho-me zonza neste clima de frio. Tenho torradas à espera de  tostar, plantas a regar e até um muco na boca a cuspir. Mas não me apetece levantar. Hoje é  sábado e sei que os vizinhos tratarão de incrustar em meus ouvidos os seus sons irritantes de  aspiradores descontrolados e brigas sem sentido. A menos a meu ver, acho que eles fazem  disso o seu matinal prazer. Estico a mão, as pernas, o braço e tento alcançar o relógio que  pousei na cómoda. É realmente tarde. Mas não me importa. Hoje é sábado. Caí. Ai como  sempre odiei aquela ginástica de cambalhotas e posições complexas! Meu equilíbrio é  eufemicamente péssimo. Não sei para quem escrevo, talvez para acalmar esta consciência 

que hoje me desafia os sentidos, na busca de um fugaz protagonismo. Chega, irei me levantar.  E assim fica mais uma rima por acabar.

 

Inês Reis

 
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