Sempre quis tudo!
Autor: Inês Duarte on Thursday, 13 November 2014
Eu sempre quis tudo, mas hoje me pergunto,
O que é o tudo?
Talvez eu tenha o mundo,
Quem saiba já esteja adiantada no meu rumo.
E mesmo assim me queixo que falta tudo.
Falta algo, se não é o tudo, é alguém
Se não é alguém, já foi alguém!
Porque falta, não para de faltar.
E dói que se farta, não pára de doer.
Dói e magoa, como só a dor saber ser.
Quem diria que a falta se faria sentir,
Quem diria que o nada poderia existir.
Eu sou o nada, ou talvez o nada me seja,
Talvez o mundo me inveja,
Porque eu tenho tudo e ainda me queixo.
Eu tenho o mundo e ainda me desleixo.
Poderia eu ter o tudo, que o tudo me faria sentir falta.
É uma falta que nada pode preencher.
Nem um cigarro por acender.
Nem um copo cheio de vodka por beber.
Nem o dinheiro no bolso para tudo o que possa querer.
Mas não é isso que eu quero!
Eu não quero nada disso!
O que eu quero é o mundo, não na forma, mas no seu sentido.
O que eu quero é o todo, não completo, mas inteiriço.
Eu quero o sorriso, mas hoje só tenho as lágrimas.
Eu quero a felicidade, mas hoje só tenho as facadas.
E poderia eu ter tudo, sendo tudo o que eu não quero?
Poderia eu ter tudo, se eu não mudo e quando mudo, eu exagero?
Poderia eu mudar, deixar de ser quem sou.
Tanto que eu já quis ser tudo, que hoje o tudo me mudou.
Poderia eu mudar de lugar, mas já nem sei para onde vou.
Tanto quis o tudo, que o tudo hoje me levou.
É triste pensar no quão triste o meu sonho se tornou.
Só pedi o tudo mas o vento soprou, me abalou.
Me destruiu, me aniquilou, me desfez, me refez.
E entretanto quis tanto, que acabou de vez.
Sei lá eu porque, ou talvez eu saiba, não sei.
E se sei, nunca a ninguém contei.
Tenho vergonha de tudo aquilo que me tornei.
Lá está, agora me confessei.
Mas nem por momentos pensem que sabem mais do que eu sei.
Ah, pois é, eu nada sei, nem sei se algum dia serei
Não sei o que fui, já nem me lembro onde falhei
Mas falhei, se não falhasse não sofria.
Se não falhasse eu não te perdia.
Mas que utopia, tudo começou no que eu queria.
Tudo terminou no que eu tinha.
Tinha mas já não tenho.
Tinha mas já não me pertence.
Já nem eu me pertenço mais.
Já nem eu sou mais capaz.
Tudo o que queria eu não posso ter.
Logo eu que sempre quis tudo.
Hoje em dia, o tudo transformou-se um perder.
Perdi o mundo, perdi o orgulho
Perdi o tudo, perdi o rumo.
Perdi-me a mim, pior de tudo!
Já nem sei de mim, muito me procuro.
Um dia desisti, vivo no escuro.
E quem saiba por deixar de procurar.
Um dia me encontre a passear.
Pela avenida ou junto ao mar.
Com o tudo na mala para festejar.
Até lá, além vai, mas eu não vou.
A alma foi, mas o corpo ficou.
Até breve, mente sofredora.
Até já, dor torturadora.
Até um dia!
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