Sete pecados capitais
Sete pecados capitais
Sou um poeta sem nome
Sem nome e sem destino ... por isso não trilho caminho
Vagueio um olhar apenas para vaguear o pensamento
E por mais que contemple
Não me sinto indiferente
Ao que contemplo e sorvo avidamente
Sou ávido e sinto gula
De ver ... sentir e degustar
O sabor do contentamento
Ao vislumbrar o teatro dos sonhos do pensamento.
Sou um poeta sem nome
Sem nome e sem destino ... por isso o infinito
É o espaço que percorro ... e não quero que lá passes
Sou avarento e a riqueza que tenho em mim
Não a dou a ninguém ...sou avaro
E quero-a apenas para eu sentir
Quero ser o único que conheceu o infinito
No sonho e no pensamento.
Sou poeta sem nome
Sem nome e sem destino ... e deleito-me
Em luxuria incansável ... quero deliciar-me
No íntimo recôndito que meu pensamento deseja
E assim como deseja ... assim te possui
E incansável luxuria do prazer
Do prazer de possuir ...e ter ... orgasmos extenuados
Simultâneas caricias e beijos
Sabores acres e odores de suor
No leito da paixão
Sentir a imensidão ... de entrar num mundo
De luxuria e perversão.
Sou o poeta sem nome
Sem nome e sem destino ... e rasgo a folha
De um poema infindo
A ira de não ter conseguido ... vislumbrar a metáfora
Que vos queria dedicar
A raiva que sinto por me terem ignorado a obra
Que escrevi sem piedade , e sem soluçar
... ainda há-de nascer a metáfora
Que vos quero dedicar ... resplandecente ódio e compaixão
Por sentir para mim mesmo
As palavras moribundas de alguém
Que escreveu o poema mundano
Que ninguém leu.
Sou poeta sem nome
Sem nome e sem destino...inveja sinto de Pessoa
Poemas que releio ... na busca de minhas palavras
Poeta de heterónimos ... De pastores e tabacarias
Invejo sinto de uma só alma
Que morrerá comigo ...o sabor das suas palavras
E restará na minha prateleira ...ou numa qualquer biblioteca
Palavras para quem queira ler ... inveja sinto de ti
Que nasceste hoje e vais ler o que eu vou esquecer
Depois de morrer
« não sei quantas almas tenho »
Sou o poeta sem nome
Sem nome e sem destino ...e hoje não vou fazer nada
Vou apenas fechar os olhos e adormecer
E quando acordar não vou nem comer
Vou ficar apenas aqui...
Deitado a pensar que não fazer nada é bom
E resignado á espera que tudo passe
Resignado aos políticos
Resignado ao destino que me tirou tudo
O que sempre tive... de bom...de reluzente e esplendoroso
Resignado ao mundo que egoísta que tomou
A história ... de um Portugal que se acomodou como eu
... num pecado ... a preguiça.
Sou o poeta sem nome
Sem nome e sem destino ... orgulhoso de mim mesmo
Por não ter traçado o caminho para o infinito
Para que todos lá fossem
Orgulhoso da avareza de não ter partilhado convosco
A riqueza que guardei em mim
Orgulhoso de me ter deitado
E não apenas contigo no leito da luxuria
Orgulhoso de sentir ódio e inveja
De tudo e todos
E o destino resignou-me á preguiça
E me tornou no único homem
Orgulhoso
Que engoliu o próprio fel...